A quarentena ocasionada pela pandemia do coronavírus (Covid-19) tem causado em algumas pessoas sentimentos de angústia, ansiedade e depressão. Os sintomas psicológicos, aguçados pelo isolamento social, podem trazer sérios problemas à saúde mental.
Por isso, o jornal Correio Catarinense buscou especialistas para auxiliarem o leitor a lidar com as emoções neste momento da pandemia.
A psicóloga de São João Batista, Michele Gonçalves, 35 anos, atualmente atua na rede pública, em Itajaí. O foco da profissional é na área da saúde mental, com pacientes adultos na prevenção, promoção e tratamento de transtornos mentais, bem como conflitos nas relações sociais e familiares.
Segundo Michele, desde o início da pandemia e isolamento social, houve um aumento na procura de pacientes. Inicialmente, devido às restrições para sair de casa, muitas pessoas utilizaram o atendimento via telefone.
“A maioria relatou sintomas como dificuldade para respirar, muitas vezes devido a ansiedade; medo de ter ou passar o vírus para os mais próximos que são grupos de risco; dificuldade no relacionamento familiar por conta da quarentena; medo de perder o emprego e da situação financeira”, destaca.
Muitos pacientes novos iniciaram tratamentos por já terem dificuldades em relação à ansiedade, e agora os sintomas aumentaram, e outros que não apresentavam nenhum sintoma.
Confusão de sentimentos
A profissional informa que, em geral, o que tem acarretado os sentimentos de angústia e depressão nas pessoas é a incerteza em relação aos sintomas do coronavírus, informações divergentes, além de ainda não haver um medicamento curativo para o vírus. “O medo é um sentimento natural diante de situações ameaçadoras e serve para que possamos nos adaptar ao meio no qual vivemos”, diz.
Em situações em que o medo é sentido e surgem pensamentos de incapacidade, existe a possibilidade do indivíduo experimentar um estresse emocional que desencadeia uma série de sintomas físicos de ansiedade, tais como palpitações, falta de ar, tontura, problemas estomacais e tantos outros que podem ser confundidos com os próprios sintomas de Covid-19.
Coach contribui com organização mental
Um método que tem crescido bastante nos últimos tempos é o coach, que trabalha ações executáveis pensando no futuro. O profissional Markony Hugo Orsi, 25 anos, formado desde 2018 pela Febracis, em Florianópolis, trabalha com o coach integral sistêmico.
Ele explica que diferente da psicologia, que trata a dor na origem, no passado, o coach organiza a estrutura emocional para determinar ações futuras. “Por isso, primeiro a pessoa precisa detectar os sentimentos para saber que tipo de profissional procurar. Se está com sintomas depressivos, é indicado primeiro passar por uma terapia com psicólogo, para depois buscar o coach”, diz.
Orsi ressalta que o método é integral, pois trabalha razão e emoção de forma coordenada. “É preciso reprogramar as verdades, as crenças criadas desde a infância, e treinar o emocional para agir diante das situações”.
Além disso, ele destaca a auto responsabilidade emocional, que precisa ser compreendida e trabalhada. Segundo o profissional, o coach é trabalhado em 12 sessões, uma vez por semana. Neste período, são repassadas ferramentas para que o indivíduo possa trabalhar e potencializar a razão e se estruturar emocionalmente.
Durante a quarentena, Orsi salienta que é preciso que as pessoas tenham capacidade emocional para lidar com o momento. “Essa pessoa que está só em casa, percebe que antes tinha um lado social bom, mas o familiar ruim, e por algo estar ruim, ele se frustra com o todo”, comenta.
Por isso, o coach avalia que este é o momento de olhar para dentro de si e se responsabilizar pelas situações que ocorrem consigo. “Se a pessoa não se volta para si, responsabiliza os outros pelos seus problemas. Porém, cada escolha, cada detalhe da minha vida, é responsabilidade minha”, diz.
Orsi acrescenta que a psicologia positiva também é bastante trabalhada em sessões de coach, e cita o provérbio bíblico que comprova que “as palavras têm poder de vida e de morte”.
Atenção aos sinais
A psicóloga Michele lembra que é importante estar atento aos sinais do corpo para, então, procurar um especialista. Entre eles, apresentar emoções intensas que podem parecer sem controle, passar por situações traumatizantes e não conseguir parar de pensar no assunto.
Além de apresentar sintomas físicos não explicados por causas orgânicas como dores de cabeça frequentes, problemas estomacais, fraqueza, dores musculares e dificuldade para dormir.
Sentir-se desmotivado em uma atividade laboral que anteriormente gostava de realizar, tendo baixa concentração e atenção. Falta de motivação para atividades de lazer das quais gostava, dificuldades para entender e falar sobre as emoções, entre outros.