Arthur Timm *
Da guerra para a paz do solo catarinense. Nas últimas semanas, o mundo observou uma forte tensão no oriente médio. As cenas dignas de um filme de ficção, no entanto não foi uma experiência tão distante para o advogado Ely Silveira, de São Bento do Sul/SC. Com exclusividade ao Correio Catarinense, Ely compartilhou a experiência que viveu e as cenas que testemunhou enquanto esteve preso no Aeroporto Ben-Gurion, em Tel-Aviv, até ser repatriado ao Brasil pela missão “Voltando em paz”.
Natural de São Paulo, Ely Silveira reside em Santa Catarina desde 2018. Advogado e jornalista, a paixão em viajar motivou a formação em comissário de voo, embora não ter atuado na área. O brasileiro aproveitou o período de férias para visitar os familiares que vivem em Israel. O que era para ser os últimos minutos em Tel-Aviv, tornaram-se horas.
Correio Catarinense: Ely, obrigado pela entrevista. Como você ficou sabendo dos ataques?
Ely Silveira: Eu soube dos ataques já no aeroporto, na fila de embarque, prestes a retornar ao Brasil. Já tinha despachado a mala, passado pela vistoria e estava com o documento na mão para embarcar. Foi então que anunciaram o cancelamento do voo.
CC: Onde você estava antes disso?Participou do festival de música eletrônica?
ES: Não, não. Estava de férias, visitando familiares, especificamente no sul de Israel. A região foi muito atacada pelos terroristas do Hamas, inclusive com prédios e hospitais atingidos, e pessoas desaparecidas. Eu saí antes dos ataques começarem, acredito que 30 minutos antes.
CC: O que você sentiu naquele momento? Consegue descrever?
ES: A gente não sabe o que vai acontecer, a gente fica apreensivo com uma possível piora. O aeroporto estava cheio e muita gente perdida, ninguém sabia de fato o que estava acontecendo. Não foi nada agradável. Eu estava sem saída, só queria retornar para o Brasil.
CC: Quantos dias você permaneceu no aeroporto? Quais eram as condições?
ES: Ao todo, eu fiquei de quatro para cinco dias. Cinco dias até o desembarque no Brasil. Eu estava no Aeroporto Ben-Gurion, em Tel Aviv. Foram diversas noites em que eu dormi no chão. Fiz amizade com outros brasileiros, então nós estávamos em um grupo, alocado ao lado do bunker do aeroporto. Havia locais para comprar comida, um pequeno mercado. E banho era no banheiro para pessoas com necessidades especiais.
CC: Vocês chegaram a usar o bunker? Tiveram alguma experiência nesse sentido?
ES: Sim, nós precisamos usar o bunker. Ao todo, durante esse período, o alarme contra os foguetes tocaram quatro vezes. A todo instante, enquanto estávamos lá, as pessoas pediam para a gente se afastar das paredes de vidro do aeroporto, pois havia risco, de caso, alguma bomba caísse ali próximo do vidro, então, se estilhaçar e a gente se machucar.
CC: Qual era a sua expectativa de retorno? Como foi retornar ao Brasil?
ES: O voo foi programado e reagendado diversas vezes. Quando a embaixada anunciou que haveria possibilidade de voo de repatriação, eu logo me inscrevi. Foi a sorte. Embarquei de volta no segundo voo coordenado pela FAB. Estar de volta aqui foi uma sensação indescritível. Às vezes não damos conta de como é bom viver no Brasil.
CC: E Santa Catarina? Conhece a São João Batista?
ES: Conheci São João Batista, especialmente os mercados de calçados, quando eu visitei o Santuário de Madre Paulina. Cheguei em Santa Catarina após ser aprovado no concurso da Celesc, onde atuo como advogado. É um estado difícil encontrar outro parecido no mundo. São características próprias que permitem sair da praia e encontrar a natureza com cachoeiras e matas lindíssimas. A questão cultural também chama atenção, assim como a culinária. São atrativos que levam a vários lugares em uma curta distância com experiências fantásticas. Aqui sou feliz e me sinto seguro.
- Arthur Timm colabora com o Correio Catarinense