Amanda Ágatha Costa – Escritora
Nunca me senti pronta para ser eu mesma, do mesmo jeito que eu sempre fui comigo mesma, só eu, no meu íntimo onde ninguém poderia me alcançar. Sempre pensei que não iriam aceitar as minhas versões do jeito que eu me entendia; me sentia presa na ideia de que sorrir e acenar, mesmo que a contragosto, seria mais fácil do que de fato expor as minhas queixas interiores.
Todo mundo tem seus próprios demônios lutando as próprias batalhas lá no fundo, mas raramente queremos expô-los ao mundo, com medo das represálias e olhares tortos contra nós. Acho que na verdade, todo mundo tem medo de ser humano. No sentido literal, também.
Medo de ser um humano com defeitos, com falhas no sistema, com erros dando pane em toda a programação, bem como medo de ser humano, de olhar para o outro ser do nosso lado, e entender que ele também passa por todos os mesmos momentos turbulentos que o nosso. Medo de ver a maldade alheia, de saber que só os seres humanos são tão capazes de conquistar o mundo ao seu dispor, e ainda assim, serem esses os mesmos que o destroem sem nem sentir um pouco de remorso por isso.
Acho que por essa razão sempre evitei mostrar tudo o que havia dentro de mim, todos os sonhos, todos os voos que eu gostaria de alçar, na tentativa de me privar de uma maldade que eu não estava disposta a absorver. Ser sozinha e estar dentro da minha mente na companhia da minha solidão, talvez não foram sempre a melhor escolha, mas entre ser um humano consciente e sonhador em silêncio, ou ser escandaloso e crítico no barulho, eu ainda escolheria ter medo de ser humano, e depois de todas as minhas escolhas, ainda me sentir de fato como um.