Amanda Ághata Costa – Escritora
As manhãs ainda choram quando te veem, e o teu descuido incessante de criar os mais variados ruídos fazem com que meus olhos despertem para a vida. Embora não queira acordar, é você quem eu vejo parado ao meu lado, sentado na ponta da cama. Assim que desperto você vem logo ao meu encontro, dando um sorriso forçado, entre tentativas falhas de também me arrancar um sorriso. Quando penso que houve uma época em que meus sorrisos já vinham estampados com seu nome, aí mesmo que eu choro.
Os dedos ásperos das tuas mãos quando acariciam minha bochecha ainda úmida das lágrimas que restaram, roubam a camada de falsidade que carrego na pele. É como se a cada dia eu me tornasse mais um tipo de fantoche e menos eu mesma. Me desprendo do seu toque e sou sincera quando digo que aprovo prontamente a sensação de liberdade momentânea, porque é doce perceber que tudo poderia estar ao nosso breve alcance se quiséssemos. A questão é que não sei se queremos. Ou se eu quero.
O maior problema é que não sei sequer onde eu começo e onde termino, muito menos onde você se mostra presente. Não basta estar parado em minha frente para dizer que está aqui. Mesmo que eu diga tudo isso, você insiste em dar um último sorriso, antes que eu saia do seu campo de vista. Radiante, como se por um lindo momento, pudéssemos nos transformar em quem bem entendêssemos. Como se pudéssemos recomeçar a qualquer momento. Apesar de tudo, pergunto-me com constância se, de fato, em um universo paralelo ainda não podemos.