Amanda Ághata Costa – Escritora
Se eu pudesse, desenharia os traços do teu corpo nu, como um artista que exibe sua obra pra plateia lotada em plena praça central. Eles não se interessariam pelas tuas curvas como de fato elas merecem ser apreciadas, mas ainda assim, eu te exibiria ao mundo como sendo a maior obra prima já criada.
Embora eles viessem a enxergar apenas os supérfluos rabiscos desproporcionais coloridos no papel, eu pintaria cada linha do teu corpo, idolatrando desde o menor dos centímetros vistos em tua composição. Isso seria mais para nós do que para eles, pois por trás dos movimentos do giz no papel, haveriam suspiros espalhados em toda parte.
Os espectadores não notariam o quanto os pelos de seus braços se eriçam enquanto meus lábios te procuram, te devoram, e provam do néctar do desejo que flui em tuas veias e salta por entre tuas mãos. Provavelmente, não visualizariam os dedos incontroláveis que exploram e habitam cada pedaço de uma alma perdida. Tampouco, perceberiam a saliva quente que envolve, derrete, funde delicadamente os meus instintos, tão incontroláveis e famintos pela tua boca quente.
É que eu vejo até o quanto você se desmancha só com o meu olhar, e o tanto que seus lábios gostariam de dizer e se fecham em seguida, porque as palavras não teriam a menor profundidade diante de todo esse frenesi. Na nossa dança de rabiscos, tudo de você se torna meu, e tudo que há em mim acaba por se tornar teu.