Amanda Ághata Costa
Escritora
Sei lá, é como se o tique-taque do relógio não parasse de martelar na minha cabeça. Cada mísero tique ecoa nos meus pensamentos, cada taque parece que me puxa mais pra dentro da realidade. O tempo parece que se esvai pelos dedos e nada de novo acontece. Me sinto dentro de um dejávù consistente e permanente que rodopia dia e noite, mesmo quando estou dormindo. É uma repetição contínua dos fatos, que nunca acaba, nunca se renova. Fecho os olhos e já é de noite e não pude sequer reparar no nascer do sol com mais calma.
Mal pisco e já são onze horas da manhã, e mais uma vez, nada fiz. Me sinto em uma guerra insana contra o calendário, que corre contra a minha direção e nem liga quando peço para ele esperar um pouco mais por mim. Quando vejo, é dia trinta e um do mês que já está terminando de novo, e é como se fosse dia primeiro e eu nem soubesse para onde ir. Sei lá, vai ver não seja só eu, mas nada faz sentido como antes.
Não sei até que ponto minha mente amadureceu ou eu que me deixei passar do ponto. Tem dias que pareço uma fruta podre no meio de outras que nem tiveram tempo de amadurecer ainda. E por falar em tempo de novo, quando quero que ele passe devagar, aí que ele voa como o vento. Justo quando quero que passe mais rápido, aí nem pra lá, nem pra cá. Justo quando mais preciso, é justamente quando o bendito relógio decide não colaborar.
Sei lá, só queria um pouco mais de disponibilidade para começar tudo de novo, mas de um jeito novo. Tem dias que a gente precisa de ar fresco no rosto, alguns pensamentos claros na mente e olhar para frente como se nunca tivesse que olhar para trás.