Amanda Ágatha Costa – Escritora
O teu beijo, em meus lábios, ainda tem sabor de chuva e mel. Tão agridoce quanto a confusão que se instala em minha mente segundo após segundo. Quando toco neles, fecho os olhos e imediatamente imagino a cena onde você me toma brutalmente de mim, rouba o meu nome e desfaz qualquer coisa que sei ao meu respeito. Me perco em nós.
Simples assim, em um estalar de dedos já não sei sequer quem eu sou, porque tudo que eu sei passa a ser sobre você. Não consigo desviar o olhar da profundeza dos teus olhos azuis, nem do jeito que a tua língua molha aos poucos a boca, antes de morder o canto do seu lábio inferior. É como se você orquestrasse a melodia ideal para me atrair passo a passo, até eu ceder e ir ao teu encontro.
Abro os olhos e encontro o quarto escuro à minha volta, me lembrando do que perdi e do quanto isso me afeta. Mais do que apenas carícias inebriantes, tuas mãos momentaneamente arrancaram de mim as impurezas, e me tornaram um pouco sensata, semelhante a alguém com uma alma que vale a pena ser cuidada. Até você se despedir sem sequer olhar para trás, era assim que eu me sentia. Levemente livre, mas totalmente presa em você.
A trilha de lágrimas e saliva que você despejou, lambuzou, amou em meu corpo, viraram abismos em minha pele e ainda ardem quando repetidamente ouso recordar. Permaneço perdida, em desespero contínuo, no espaço entre nós dois.