Amanda Ághata Costa – Escritora
Minha voz, às vezes tão muda, às vezes tão estridente. Grita rua afora procurando alguém que a possa ouvir, no entanto, ninguém sequer desvia o olhar para encontrá-la. É como se fosse em vão, sem sentido, inútil continuar gritando e ninguém percebendo o que está acontecendo.
Minha voz que não sai da minha boca ou os ouvidos de todos é que estão tapados demais para escutar algo que vá além deles mesmos? Não sei se continuar tentando é o mais sábio a se fazer, mas em meio a dúvida eu escolho continuar, afinal, quem sabe gritando por mais alguns segundos a minha voz se sobressaia em algum lugar. Alguma alma caridosa talvez me veja, me ouça, me entenda um pouco, ao menos de forma que minha voz não se perca à toa em qualquer esquina.
Tenho tanto a dizer e gostaria muito de usar o meu grito para algo mais suave do que um grito agressivo. Na verdade, gostaria ainda mais de não precisar gritar e falar baixinho, e ainda assim capturar a atenção de quem está ao meu lado. Não grito porque gosto, mas porque se até aos gritos eu não sou vista, imagine então se eu sussurrasse.
Em meio a tantos gritos perdidos, confesso que às vezes eu até coloco minha voz no mudo, necessitada de um pouco de silêncio dentro da minha garganta que arde em palavras ignoradas.
Minha voz não tem vez na maioria das vezes. Até poderia me calar para sempre, fingir que não tenho nada a dizer e guardar tudo o que quero falar, mas minha voz sussurra o contrário. Mesmo que ninguém me ouça, não vou me calar. Se um dia ao menos uma pessoa ouvir o que tenho a dizer, já terá valido a pena.