Tudo começou com um pequeno diário, quando eu era jovem demais para entender o que aquilo significava e o que viria em seguida. Depois, surgiram os pequenos bilhetes manchados com ideias tolas e mais um monte de pensamentos dos quais não lembraria nem se quisesse muito.
E aí apareceram os papéis colados na escrivaninha, na beirada da cabeceira, e em todos os lugares onde eu achava conveniente para assim, enfim, organizar cada mínimo centímetro da minha vida.
Sempre fui desse jeito. Sempre tive que ter controle de tudo o que viria a acontecer e, às vezes, tentava controlar até o que sabia que iria acontecer no dia do maldito nunca.
As listas espalhadas pela casa até poderiam não ser um grande problema, se eu soubesse vê-las como apenas tópicos aleatórios dos quais lembrar e não itens essenciais para cumprir.
Ser refém das minhas anotações não me tornava menos prisioneira do que outras reféns que se trancavam em prisões horríveis.
A lista perfeita do que comprar no mercadinho da esquina, a forma ideal de como agir em um evento de alta classe, os incansáveis lembretes de ser tudo, menos eu mesma, em grande parte de tudo que eu já vivi para não correr o risco de ser tudo, menos que igualmente perfeita,me esgotou ao ponto de me ver sendo alguém que eu não conhecia e odiaria ser.
Aí eu parei de anotar o que deveria fazer e comecei a realmente fazer. Em vez de pensar por horas e no fim desistir de tentar, eu só me joguei naquela direção e pude perceber o quanto estava ganhando ao arriscar.
Perder o controle me fez ter mais controle sobre meus desejos e sonhos do que antes quando eu achava que deveria frear todos eles. Demorei a perceber, mas a lista perfeita sempre foi a lista vazia e a alma cheia.