Dr. Wilian Duarte da Silva
As primeiras experiências do jovem na caminhada da vida são inesquecíveis e dificilmente se apagarão da memória. Parece que carregam esses momentos, de lembranças boas ou ruins, como bússola, a ser vigiada e seguida ao longo da vida.
Pois bem, seguia os primeiros meses do ano de 1957, eu, jovem acobertado de esperanças, vagava tranquilamente pelas ruas e vielas da minha pacata e estimada cidadezinha de São João Batista. Pensava, sou um moço agraciado por ter nascido nesse lugar, sem contar o orgulho. Lembrava prazerosamente do tempo de criança, ao estudar nas escolinhas primárias. Aonde, se aprendia com as prendadas professoras, os primeiros ensinamentos, sobre as grandes personalidades da nossa Pátria. Entre muitos, destacava-se o notável jornalista, escritor e poeta, Olavo Bilac, nascido no Rio de Janeiro, ao dizer, “Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste! Criança! Não verás nenhum país como este. Olha que céu! Que mar! Que rios!…” Me sentia ufanado de ser brasileiro e ter nascido na minha batistense.
Passaram-se os estudos preliminares e secundários, já me via alçado à escola superior. Cursava direito, na velha Faculdade de Direito, em Florianópolis, aonde o estudante, defendia ardentemente as liberdades, os direitos constitucionais, os deveres e as obrigações dos cidadãos, os códigos de direitos substantivos e processuais, que iriam nortear a profissão. Sabia distinguir a materialização dos direitos e deveres das pessoas.
Seguia meu destino.
Agora, na terrinha, escutando as pessoas e também conversando. Confesso, o meu círculo de amizade era restrito, por ter vivido muito tempo afastado do lugar, estudando e trabalhando.
Gostava de me relacionar, dialogar, ser útil e prestativo. Comecei a comparecer com mais frequência no nosso lugar, com a finalidade de interagir com a comunidade, obter notícias sobre o nosso Distrito, para publicações em jornais da Capital do Estado. Escrevia reportagens sobre o que estudava, via e ouvia. Projetava o nosso Distrito, objetivando a sua emancipação.
Nessa época, de saudosa memória, conversando aqui e acolá, em bares, cafés, no comércio em geral, as amizades surgiam espontaneamente. Foi então, num desses encontros, que ouvi falar da tradicional família Brasil, de nosso torrão natal. Sinceramente, tinha pouco conhecimento sobre os feitos do mestre Patrício Teixeira Brasil, que dava nome ao único Grupo Escolar, do Distrito. O bate-papo aguçou meu interesse. A vida de pessoas importantes da cidade, que contribuíram para o desenvolvimento, material, cultural e intelectual, me fascinava.
Nesse vai e vem de pesquisas em livros, pouco alento obtive, que pudesse satisfazer a minha curiosidade, sobre o político e professor. Mas, os estudos não se atêm somente a livros ou escritos esparsos. A cultura popular também é fonte de conhecimento. Efetivamente, arrematei alguns dados históricos, para contar aos leitores, na minha singela apreciação e sem qualquer modéstia. Constatei o que todo mundo já sabia, o velho Patrício Teixeira Brasil, por ser letrado, professor, foi homenageado em 1950, com as presenças do Governador do Estado e autoridades, no nosso lugar. Evento de grande repercussão. Essa alta condecoração foi conferida, com colocação de placa alusiva à sua pessoa, nominando o mais importante estabelecimento de ensino da nossa cidade, o Grupo Escolar Patrício Teixeira Brasil. Recorrentemente, exteriorizo o tempo em que lecionei nessa instituição de ensino, na década de sessenta, como professor de Sociologia Geral.
Não ficou apenas na consagração retro. Sua importância histórica, estendeu-se também para outras áreas de relevância regional. Para uma época de nenhum concorrente em letras, era considerado além de professor, o guia, o mestre, o conselheiro e também político. Pregoeiro do bom ensinamento, era tido como o “omniascire”, o “sabe tudo” da Freguesia Batistense. Destacou-se num período da República Velha, (1910/1922), como político imbatível, na hoste territorial local. Manteve essa hegemonia, por mais de década. Comandava o Partido Republicano no Distrito, conquistando vitórias sucessivas em eleições, derrotando seus adversários de modo geral. A sua força política, causava admiração e respeito.
Escarafunchando na redondeza, dei conta que duas brilhantes professoras, de tempos idos, eram suas netas. Uma de nome Flora Auta Brasil e outra, Corina Barasil. Ambas lecionavam na nossa circunscrição regional. A última, em tempo posterior, tive a felicidade de conhece-la e ser amigo.
O corolário de informações recebidas da nossa gente, me permitia contar outros feitos do famoso e talentoso líder político. Fiquei sabendo da sua personalidade, de líder imperativo, austero, exercendo domínio sobre as pessoas, pela forma de agir. Desempenhava papel de político intimorato. As eleições eram conquistadas, sob pressão de poder, não tanto, por prestígio pessoal. Era Governador do Estado de Santa Catarina, Hercílio Pedro da Luz, seu correligionário, a quem prestava lealdade, que em tempos anteriores havia tomado pela força o comando do Estado, se apossando do Palácio Rosado. Esses episódios mereciam atenção. Lembrava de outros políticos Brasil afora, que detinham esse mando autoritário, chamados de caciques, notadamente na Região Nordeste. Naquele tempo, as mulheres não votavam.
A história é reveladora de acontecimentos, não importando o tempo. As informações populares são fontes de pesquisas para elucidação de pontos incertos, obscuros ou não sabidos. E, persistem através dos tempos, pelos usos e costumes, de pessoa para pessoa, de geração para geração. Alguns, se arriscam em dizer, as chamadas culturas populares inominadas, não escritas.
Depois de recorrentes pesquisas, constatei que o eminente homem público, Dr. Nereu Ramos, Deputado Estadual Catarinense, fizera discurso político em nosso Distrito, em 1922, em eleições gerais. E, tinha como opositor, além do Governador mencionado, o político do nosso Distrito, o professor Patrício Brasil. Liderava essa manifestação pública, Benjamim Duarte da Silva, correligionário nereusista, que exercia a chefia do Partido Libertador, no lugar. Contava 25 anos de idade. Esse comício, realizou-se em frente da sua casa de madeira, localizada num canto fronteiriço da praça principal. Exatamente, onde está o atual prédio do cartório imobiliário. A agucidade me fez saber também, pela primeira vez, o velho político Patrício Brasil, fora derrotado nas urnas. Até então, o Partido Republicano, sob seu comando, mantinha supremacia e invencibilidade. Reforçando esse trabalho, encontrei em 2008, no livro “São João Baptista do Alto Tijucas Grande”, de autoria da escritora e historiadora, Darci de Brito Maurici, à página 94, um tema atinentea esse episódio.
Como mestre da língua pátria, ensinava com sabedoria e rigidez. O aluno aprendia encorajado por seu modo simples e fluente de ensinar. Era único professor a lecionar na Freguesia, nem por isso, deixava de ser diligente e preocupado com os estudos de seus discípulos. Soube que não permitia facilidades e nem fazia distinção entre alunos. Dado a projeção do ensino, qualificou muita gente para o exercício de atividades comerciais. Lecionava na sua casa, situada em frente da antiga praça, sem denominação. O ensino era oficializado. Meu pai Benjamim Duarte da Silva, foi seu aluno, no primeiro decênio do século passado.
Nesse momento, nada mais justo e correto, do que senão ressaltar os feitos desse importante homem público, Patrício Teixeira Brasil, por sua contribuição cultural e política para a nossa cidade. Eternizou-se nos anais da história batistense, como professor e político.
Aos leitores, amantes da cultura, meu fraterno abraço.