Dr. Wilian Duarte da Silva
No final de dezembro do ano passado, fui visitar Arataca, depois de dez anos. Estive pela manhã, na igreja católica. De lá, segui para casa da senhora Arina Zunino Peixer para uma reunião familiar, onde encontrei meus amigos, Elio Peixer (ex-vice prefeito) e Jair Sebastião Amorim, (ex-prefeito), de São João Batista. Seguidamente, participamos de almoço com galinha caipira ensopada, assada de forno e costela bovina, regado com bebidas variadas. Tendo a prestimosa Tayse, neta da anfitriã, executado os serviços cerimoniais. Passamos um dia alegre e descontraído, conversando sobre temas diversos, e chegou-se ao fim, em adiantada hora da tarde. Foram momentos agradáveis, que se deseja todos os dias, ainda mais, entre comes e bebes. Sentimo-nos à vontade. Pessoalmente, vivi instantes de alegria e contentamento, rodeado por pessoas amáveis, cordiais e amigas. Não vou esquecer nunca.
Nesse dia, parei para ouvir atentamente um arguto sapateiro da nossa cidade, que se tornou Prefeito. Dispensei atenção extrema no que dizia, sobre sua administração à testa da Prefeitura, vida política e profissional, muito embora, soubesse das suas qualidades pessoais. Sabia de seu passado pobre, nascido da humildade da terra, daqueles que nunca tiveram a opulência dos ricos, para não dizer “sem eira e sem beira”. Filho de ensacador de açúcar e mãe de afazeres domésticos. Pessoas simples, sérias, que carregavam no semblante a marca da dignidade e nas mãos calejadas o sinal da probidade de seus trabalhos. Daqueles que trabalhavam dia a dia, para sustentar a família, mas pertinentes ou tangentes nos ensinamentos de seus filhos, na idoneidade moral, religiosa e intelectual. Aprenderam a faculdade da vida, em estudos sociais. Para ser doutor não é preciso diploma, mas de aprendizado, ou sabedoria naquilo que faz. Nonga foi empregado de diversas fábricas e tornou-se proprietário de outras. Amante do que fazia e da profissão, fundou em 1992, o Sindicato dos Sapateiros. Chumeco da Farroupilha, de chinelo ou de sapato, palmilhava a cercanias da cidade, com carisma e vontade, pregando suas ideias emedebistas com muita fé e denodo. O tempo e a sorte pertencem a todos, é bíblico. Foi ser prefeito numa época de transformação social da nossa cidade. Saia a indústria açucareira 1992, e surgia vagarosamente a indústria calçadista. Num período nebuloso de baixos índices de crescimento e qualidade de vida das pessoas. Nem por isso, deixou de recuperar a economia, com avanços na indústria transformista de calçados. Governou o nosso município por dois mandatos consecutivos, de 01/01/1997 a 31/12/2000 e de 01/01/2001 a 31/12/2004. Foi felizardo e agraciado, com a passagem memorável do século XX, biênio da era cristã. Feito histórico que não veremos jamais. Só os abençoados da vida tiveram essa predileção. Nesse grande período, ocorreu a “Idade Média”, de mil anos, do século V ao século XV, com dominação da igreja católica. No seu primeiro mandato governamental, impulsionou o crescimento da indústria calçadista. Não ficou somente nesse equacionamento ou seguimento, outros fatores significantes foram implementados para alavancar a evolução social e econômica.
Em 1997, ao tomar posse, como prefeito, encontrou o órgão administrativo municipal, com as finanças extremamente debilitadas, com dívidas superiores a meio milhão de reais, com contas a pagar a fornecedores e salários atrasados. Caos financeiro. Obrigando-o a tomar medidas drásticas e urgentes, para saneamento do órgão administrativo, com fechamento de suas atividades por trinta dias, e injeção de recursos, via empréstimo bancário, solucionando o desequilíbrio momentâneo.
Na área da educação, fez diversas modificações necessárias a bem do ensino público municipal. Colocou uma professora para lecionar em cada série, afastando o sistema antigo, que priorizava uma professora para diversas séries de ensino, ao mesmo tempo.
Sua visão social e administrativa, transcendeu as expectativas, com a ampliação do Hospital Monsenhor José Locks,da Escola Alice da Silva Gomes, criação da Clínica do Povo, implantação de novos Postos de Saúde, esgoto pluvial e calçamento em área do centro, construção da Capela Mortuária,da Creche Dona Chuquinha, a ponte de acesso à Colônia Nova Itália, a Delegacia de Polícia Civil e inserção do Corpo de Bombeiros. Adquiriu máquinas e implementos agrícolas para o setor agrário, além de aparatos pesados, para conservação das vias públicas. Introduziu 33 km. de rede de abastecimento de água, beneficiando as localidades de Fernandes, Colônia Nova Itália e Arataca. Implantou o Programa Saúde da Família (PSF), hoje ESF e pôs em funcionamento o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, além de entretenimentos,para a criançada de modo geral. Nesse conjuntode realizações, destaco o Aterro Sanitário, obra de infraestrutura inovadora, de saneamento, que gerou enorme economia para os cofres municipais, além da despoluição do meio ambiente, com reflexos na saúde das pessoas. Foi novidade na época, entre os 22 municípios da Grande Florianópolis e no Estado.
Na área cultural, marcou importante acordo (gemellaggio), entre São João Batista e a cidade de Firenze (Itália), facilitando o acesso a informações, troca de experiências, elaboração de projetos e cooperação econômica e social. Duas cidades ligadas pela cultura do couro, irmãs por afinidade e com o mesmo santo padroeiro.
Em 2003, foi o idealizador do primeiro Arranjo Produtivo Local (APL) do Brasil, que alavancou o crescimento da indústria calçadista de São João Batista. Projeto grandioso que deu suporte esustentabilidade a economia da cidade. Por isso, recebeu do Sebrae e, o título de segundo empreendedor de Santa Catarina. Dois anos antes, em 2001, em sua gestão, a cidade conquistou o título de Capital Catarinense do Calçado, concedido pela Assembléia Legislativa, através de Lei Estadual nº 12.076.
Se no início do primeiro mandato, sofreu reveses ou dificuldades administrativas, seguidamente, colocou a Casa em ordem, projetando a cidade para o crescimento. Foi sem dúvida, o propulsor, o protótipo do seu desenvolvimento econômico, principalmente na área calçadista e social. Razão desse tema.
Por outro momento, é preciso dizer que o ex-prefeito Nonga, desde jovem, demonstrava propensão política. Lhaneza no tratamento com as pessoas, uma de suas características. Destemido e aguerrido nas horas próprios e necessárias, além da competência para o exercício de cargo público.Por sua habilidade e conhecimento da coisa pública, ocupou diversas funções de relevância na esfera do Governo Estadual. Foi Secretário Regional da Secretaria Regional de Brusque, nomeado pelo Governador Luiz Henrique da Silveira,de 2005/2009,com atribuição de Secretário de Estado, na jurisdição sob seu comando. Nesse período, viabilizou a pavimentação ou asfaltamento da SC-108, de São João Batista/Major Gercino, potencializou a execução do Trevo da Via Scarpa, construção de três ginásios esportivos, sala de aula para ensino do segundo grau em Tigipió, ampliação do Colégio São João Batista e restauração da Igreja Matriz, sem contar as obras em outros municípios da sua competência Regional.Acrescente-se ainda, ocupou cargo de Assessor da Casa Civil, no governo de Pedro Ivo Campos, de 1988/1990, gerente da Fatma, atual Instituto do Meio Ambiente (Ima), de 2009/2014 e outros feitos. No ano passado, renunciou aposentadoria provisória e passou a chefiar o gabinete do atual prefeito Pedro Alfredo Ramos, desempenhando com competência e dinamismo, o cargo que ocupa.
Para escreversobre essa gama de funções e aptidões do ex-prefeito, de tantos anos, o redator, necessita de pesquisa, tempo e dedicação em razão da extensão da matéria. Nem por isso, deixei de consignar suscintamente, alguns tópicos ou feitos importantes de seu período laboral.
É um batistense de escol, admirado por seu trabalho e seriedade ao longo da vida pública e privada. Pessoa respeitosa, humilde e exemplar chefe de família de formação cristã.
Aos prezados leitores, o abraço de sempre, com o registro de mais um período da nossa história.