Aos 49 anos, o empresário Heriberto Eurides de Souza, o Betinho Souza, tem em seu íntimo, o desejo de se tornar prefeito. Quando eleito vereador em 2016, com 497 votos, se auto intitulou um ‘louco’ do bem, por ter feito, segundo ele, uma campanha limpa e de poucos recursos.
Dois anos mais tarde, a ‘loucura’ foi colocar o nome à disposição para ser candidato a deputado estadual. E se tornou o mais bem votado em São João Batista, com 4.098 votos, num total de 5.573 em todo o estado.
Natural da cidade, Betinho é filho de Eurides Julio de Souza, o seu Didi, e Angela Marli de Souza, a dona Marli. Casado com a empresária e farmacêutica Sayonara Silva de Souza, 41, o casal tem dois filhos: Kauê Silva de Souza, 15, e Davi Silva de Souza, 11.
Filiado há 18 anos no Cidadania, deste a época em que a sigla era PPS, Betinho Souza concedeu entrevista ao Correio Catarinense, ao qual relata os desafios da vida pública e profissional.
1- Correio Catarinense: Inicialmente, vamos destacar como você iniciou a vida profissional? Trabalha desde que idade? Quais locais?
Betinho Souza: Desde muito cedo, por volta dos dez anos, já contribuía com os afazeres dos meus pais, ajudando minha mãe na horta, e meu pai na criação de gado, entre outras atividades como capinar, roçar, plantar, colher, e também ajudava na pequena empresa de calçados deles.
Aos 17 anos, assumi nesta mesma empresa a função de cortador e, logo em seguida, o administrativo. Aos 20, atendendo a um anseio de meu pai, fui trabalhar como estagiário no Banco do Brasil, onde fiquei apenas dois meses, pelo fato de ver que minha família sentia minha falta na empresa. Então decidi voltar para a empresa que administrei junto com minha família por 20 anos.
Nesse período, e em razão da minha função, ingressei na Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Itajaí, onde me formei no curso de Ciências Contábeis.
Aos 22 anos, fui convidado a assumir a tesouraria do Sindicato das Indústrias de Calçados de São João Batista (Sincasjb), atuando por dois anos. Nessa experiência, assumimos um sindicato com enormes dificuldades financeiras e lembro bem, que fizemos uma rifa de um carro no valor de R$ 100 a cartela e fomos chamados de loucos, porém a rifa foi um sucesso e conseguimos entregar o sindicato no fim de nossa gestão com as contas rigorosamente em dia.
2- Correio: Hoje você atua no mercado imobiliário e secutirização. Como você analisa o momento desses nichos de mercado?
Betinho: Hoje, atuando no ramo imobiliário e financeiro, e com a experiência de 32 anos como profissional, enfrentamos uma das piores crises já vistas devido a esta pandemia. Mas entendo que o processo de retomada terá a mesma proporção e velocidade de quando entramos na mesma. O momento não é bom para ninguém, mas estamos na mesma tempestade, todos tentando enfrentá-la da melhor maneira possível e penso que, apesar de tudo, este momento nos fortaleceu pelo fato de valorizarmos ainda mais o que era bom e não dávamos a devida importância. Fazendo uma analogia sobre tudo que estamos passando e pela experiência que tenho, logo, viveremos dias melhores. Nós, brasileiros, sabemos nos reinventar e estamos com muita vontade de fazer com que nossas empresas, atividades e a vida social voltem à normalidade.
3- Correio: Como que estão os trabalhos de vereador na cidade? Como define essa experiência?
Betinho: Sempre fui envolvido nas causas sociais e desde muito cedo tive o desejo de contribuir na vida pública, mas sempre prorroguei essa decisão em virtude de diversos fatores profissionais e familiares. Até que no dia 4 de dezembro de 2015, São João Batista vivia um caos na segurança pública, Delegacia Civil com prédio em situação precária, baixo efetivo da Polícia Militar e o índice de assaltos elevadíssimos.
Decidimos entre os comerciantes fazer um manifesto paralisando a nossa cidade por uma hora, fechando as duas pontes da cidade, no intuito de chamar a atenção das autoridades governamentais, para que nosso município tivesse a atenção necessária naquele momento tão conturbado que vivíamos. Para minha felicidade, obtivemos êxito em todos os problemas relatados. Percebi, naquele momento, que poderia contribuir ainda mais com minha cidade e, logo em seguida, me candidatei a vereador nas eleições do ano de 2016, me elegendo.
Desde então tento fazer de fato a verdadeira função de um vereador que é a de legislar e fiscalizar, o que, uma parte de nossa sociedade, talvez por cultura do passado, infelizmente, ainda não conseguiu entender.
Confesso que não é fácil, você entrar em uma casa legislativa e ser tratado como oposição. Entendo que vereador depois de eleito não é oposição, nem situação, e sim, vereador da cidade como um todo. Mas infelizmente nos dias de hoje ainda vemos vereadores atendendo eleitores com ‘carradinha’ de macadame e outros ‘favorzinhos’.
Além dessa minha crítica entre muitas outra que tenho, hoje estamos assistindo a nomeação de uma ponte ser mais discutida que um Projeto de Lei que visa impedir o nepotismo (nomeação de parentes de prefeitos, vereadores e secretários). E até mesmo de um Projeto de Lei para reduzir provisoriamente os salários de agentes públicos até final de ano, em razão da crise, uma triste realidade.
Confesso que não está sendo uma das melhores experiências de minha vida. Não consigo entender como uma casa legislativa nesses três anos e meio não reprovou nenhum projeto vindo do Executivo, onde houve vários abusos no aumento de tributos, como por exemplo, o aumento da Cosip em 1.000%. Em contrapartida, tive 20 requerimentos reprovados que pediam informações do Poder Executivo, exercendo a devida função de vereador, como por exemplo, o último que fiz pedindo que fosse incluído no portal da transparência, os gastos detalhados do hospital. Fui o vereador que mais apresentou indicações, sendo quase 150, 20 requerimentos, cinco Projetos de Lei e luto arduamente pela transparência e eficiência dos gastos públicos. Tanto que estou acionando a Justiça para que a sociedade tenha acesso às contas públicas do hospital.
4- Correio: E as eleições deste ano. O Cidadania, realmente, vai de cabeça de chapa ou pode compor com algum partido?
Betinho Souza: Sim, o Cidadania tem hoje candidato para ser cabeça de chapa nas eleições majoritárias desse ano. Sabemos que na política tudo pode acontecer, porém estamos bem firmados no propósito de termos um candidato a prefeito pelo Cidadania. Sobre a composição, não descartamos qualquer possibilidade, sempre estivemos abertos ao diálogo, porém, hoje entendemos que chegou à hora do nosso partido ter um candidato na majoritária.
5- Correio: Como que você analisa o atual cenário político da cidade? Acredita em um numero recorde de candidatos a prefeito?
Betinho: Assistindo a tudo que vem acontecendo no cenário político da nossa cidade, dá a entender que vale tudo, tornando a política cada dia mais desacreditada. Hoje são lançados nomes e amanhã descartados. Já vimos pessoas se lançarem a pré-candidatos de uma sigla e hoje estarem filiadas em outras nomenclaturas. É um ‘troca-troca’ sem fim, onde a sociedade que já é crítica aos políticos, fica cada dia mais indignada.
Ademais, acompanhando as redes sociais, percebo que já começou a velha estratégia dos ataques pessoais, onde já existe páginas fakes, provavelmente patrocinadas, que possuem o único e exclusivo objetivo de desmoralizar aquele pré-candidato, no intuito de fazer com que ele repense ou até desista da sua pretensão política, e também no propósito de desencorajar outras pessoas a ingressarem na vida pública.
Entendo que toda pessoa que exerce uma função pública, está sujeita e deve receber críticas e a sociedade tem a total legitimidade de fazê-la, desde que essas críticas sejam sobre seus atos públicos, sabendo diferenciar a vida pública da privada.
Acredito que teremos mais de quatro candidatos a prefeito nessas próximas eleições e torço para que isso aconteça, tornando assim uma eleição plural, possibilitando que a sociedade tenha mais opções, não restrita a somente duas como é de costume.
6- Correio: Qual sua análise da atual administração de Daniel Netto Cândido?
Betinho: Todos sabem da minha opinião sobre a forma que a nossa prefeitura é administrada. Já falei por várias vezes e vou repetir: a administração de nossa cidade tem que ser menos política e mais gestora, preocupando-se menos com as redes sociais e mais com os anseios da população. Infelizmente, vivemos ainda à época das obras eleitoreiras, que são executadas em ano de eleição e usadas em palanque eleitoral, com o objetivo de se perpetuarem no poder. Não sou contra a essas obras, sou contra fazê-las em anos eleitorais e deixar a conta para os próximos prefeitos pagarem.
7- Correio: Espaço aberto para algum assunto que não destacamos. Ou, também, deixar uma mensagem aos leitores?
Betinho: Andando por nossa cidade, percebo a falta de limpeza e de cuidados com as calçadas e acessibilidade. Para mim, a limpeza é o básico de uma administração pública, e isso é o espelho de toda a administração. Será que da mesma forma que tratam a limpeza da cidade acontece também nas escolas? Nossos postos de saúde? Nossas frotas de automóveis? Enfim, em tudo que é público?
Para finalizar deixo o seguinte recado: vejo que a comunidade tem bastante rejeição à classe política, mas a mesma não pode esquecer que esses políticos que tanto são criticados foram eleitos pela própria sociedade. Então pesquise, se informe e não deixe de exercer seu papel de cidadão votando naqueles que tem realmente capacidade, honestidade e não os que praticam nos dias de hoje o ‘assistencialismo’. E se é unânime que não estamos satisfeitos com a classe política que hoje nos representa e almejamos mudança, temos que dizer não à reeleição, pois é ela que alimenta todo esse jogo, onde vale tudo pra se perpetuar no poder.