Cristiéle Borgonovo
A casa verde, no bairro Ribanceira do Sul, em São João Batista, carrega as marcas do tempo, mas também o calor de uma história vivida com simplicidade, fé e muito amor. Ali vive Manoel Vitalino do Nascimento, o “seu Maneca”, como é carinhosamente conhecido por todos. No mês de julho de 2025, ele celebrou com a família um feito raro e precioso: completou 100 anos de vida. E neste mês de agosto, com o coração pleno de gratidão, irá comemorar o primeiro Dia dos Pais como centenário, cercado por quatro gerações de descendentes: filhos, netos, bisnetos e até um tetraneto.
Natural de São João Batista, Manoel nasceu e foi criado na comunidade onde até hoje reside. Viveu com os pais, Vitalino Veber do Nascimento e Rosa Maria do Nascimento, e com os cinco irmãos, numa época em que as famílias grandes, o trabalho na roça e o costume de partilhar o pão à mesa eram a base da vida.
Desde pequeno aprendeu o valor do esforço e da responsabilidade. E foi como lavrador que construiu sustento e criou os sete filhos com dignidade, mesmo diante das dificuldades impostas pela vida simples do interior.
Ao lado da saudosa esposa, Martha Mafessolli do Nascimento, construiu uma história de amor que atravessou décadas. Foram 72 anos de casamento e outros cinco de namoro, totalizando 77 anos de companheirismo e fidelidade. Com ela, Manoel formou uma família numerosa. O primogênito foi Antônio, depois vieram Airton, Maria de Lourdes, Marlene, Marlete, Margarete e a caçula Marizete. A esposa faleceu em novembro de 2024, deixando um legado de doçura e dedicação que ainda emociona o centenário.
“Quando eu chegava do trabalho, eles vinham todos correndo me abraçar. A Martha embalava os pequenos no colo e cantava como uma passarinha para fazer dormir. Éramos simples, mas ela nunca reclamava de nada. Sempre atenciosa com os filhos, mesmo com sete crianças. Hoje em dia, com dois, já dizem que é difícil. Naquela época, vivíamos com o que tínhamos e com muito amor”, conta, com a voz serena e cheia de ternura.
Mesmo aos 100 anos, seu Maneca mantém uma saúde invejável. A audição, a fala e a visão permanecem intactas, e a lucidez impressiona. Anda sozinho, toma banho sem ajuda, se alimenta com autonomia e ainda se diverte com os netos e bisnetos. Ele não abre mão de caminhar todos os dias pelo cercado da casa, vai ao galinheiro e até busca pessoalmente as correspondências na caixa do Correio.
Antigamente não se comemorava Dia dos Pais
Sobre as comemorações do Dia dos Pais, Manoel recorda que, em sua infância, essas datas não existiam com a relevância que têm hoje. “Essas coisas começaram depois que os filhos foram para a escola. Aí eles traziam cartinha, desenho, e a gente ficava feliz”, relembra com um sorriso. “No meu casamento, o padre Januário celebrou a missa em latim, de costas para o povo. Tudo era diferente.”
O tempo pode ter passado, mas os princípios continuam vivos. Ao falar da paternidade, ele transmite a sabedoria de quem viveu intensamente esse papel. “Ser pai é cuidar, estar presente, respeitar tua mulher, ensinar teus filhos com amor e exemplo. Hoje, vejo muita gente casando e querendo viver como solteiro, sem assumir o que prometeu no altar. Casar é decisão, então que seja com responsabilidade”, diz.
Ao ser questionado sobre o que mais sente saudade, não hesita em dizer: “Deles pequenos. A casa cheia, barulho de criança, todos ao redor. Era uma alegria só. Hoje, graças a Deus, a casa continua cheia nos fins de semana, mas é diferente. É uma saudade boa”, recorda.
A família do seu Manoel cresceu e se espalhou. São sete filhos, 16 netos, seis bisnetos e um tetraneto (popularmente chamado de tataraneto), que herdaram não apenas os traços físicos, mas também os valores e a fé transmitidos ao longo das gerações. Nos fins de semana, é comum encontrar a casa cheia, com visitas que se reúnem ao redor do fogão a lenha para partilhar café fresco, biscoitos caseiros, bolo de fubá e longas conversas recheadas de memórias.
Segredo da longevidade
E se há um segredo para viver bem por tanto tempo, Manoel aponta para a vida simples, a comida saudável e um pequeno prazer diário: “Sempre plantei para o nosso consumo, sem veneno. Comia muita verdura, legumes, salada. As criações também eram nossas. Mas vou te contar um segredinho: até hoje, todo dia, eu tomo uma cerveja gelada. Essa semana estava frio, então deixei de lado uns dias, mas é raro. Não importa a marca, o importante é estar geladinha. É o meu prazer.”
Neste Dia dos Pais, a família se prepara para celebrar a vida de um homem que representa mais do que longevidade. Maneca é símbolo de amor, humildade, sabedoria e compromisso. O exemplo ecoa em cada geração que veio depois e é motivo de orgulho para todos que lhe conhece.
A centenária figura paterna que atravessa gerações, viu a chegada da energia elétrica, acompanhou as transformações sociais e tecnológicas do último século, ainda mantém o mesmo brilho nos olhos ao ver os filhos reunidos, as crianças brincando no quintal e a mesa posta com simplicidade e alegria.
Neste agosto de 2025, o centenário Manoel Vitalino do Nascimento não comemora apenas um Dia dos Pais. Ele celebra um século de história, legado e presença. E isso, por si só, é um presente para todos ao seu redor.