Cristiéle Borgonovo
As primeiras mulheres que aprenderam o ofício do calçado se casaram. A maioria dos maridos não aceitavam que continuassem a trabalhar, pois os filhos começavam a nascer e também haviam os afazeres domésticos.
Porém, outras jovens ingressavam na lida e o ciclo sempre tinha sequência. Outros nomes também surgiram na década de 50, na continuidade do trabalho nas fabriquetas. Foram elas: Juventina Coleone Cunha (foto abaixo), Luci de Azevedo Moresco (foto acima), Rosa Machado Pereira, Zulma de Oliveira Reinert, Alzira Valtrich da Silva, Zilda de Oliveira Pereira, Maria Laudina Vargas Valle, entre outras.
Mira Said conseguiu registrar com a ajuda de Janaina Cunha, neta da saudosa Juventina Coleone Cunha, áudios onde a avó contava essas memórias do início das mulheres no setor.
Juventina contou que trabalhava na agricultura com os pais e também na fábrica de calçados quando era noiva. Depois de casada, o marido não lhe proibiu de continuar a trabalhar, porém não ia fazer os serviços na empresa. Levava e fazia em casa, assim como hoje trabalham os ateliers. “Embalava o filho e fazia as costuras a mão com uma agulha grossa e resistente”, explicou a Mira.
Luci de Azevedo Moresco também conversou com a professora aposentada Mira antes de falecer. Falou dessa experiência que teve quando jovem do trabalho nas sapatarias. Faziam calçados semelhantes as pantufas, mas não para andar dentro de casa, mas sim na rua. Depois que se casou deixou o calçado para cuidar da família.
Mira também destaca durante as coletas de informações junto a essas trabalhadoras, muitas das famílias dessas mulheres no qual ela conversou não sabiam que as mães ou avós haviam trabalhado no calçado. Pois como era uma profissão exercida antes do casamento, muitas acabavam nem relatando aos familiares.
Todas essas mulheres no qual a professora aposentada reuniu informações e as guarda em casa em arquivos pessoais, já faleceram. Graças a esse trabalho, parte das memórias das mulheres no setor calçadista conseguiu ser registrada. Hoje, Mira pode ser considerada uma guardiã da história local.