Amanda Ághata Costa – Escritora
Encaro minhas unhas impiedosamente roídas uma a uma e me pergunto porque preciso descontar toda a minha ansiedade em mim mesma, de modo que nem cogito a ideia do que estou de fato fazendo, antes de fazer. Não consigo controlar os pensamentos desenfreados e todas as dúvidas cruéis que pairam em minha cabeça, me fazendo questionar tudo e todos a todo momento.
Não é algo que pode ser medido ou comparado, pois antes mesmo de pensar, já fiz. Mesmo sem ter mais o que roer nos dedos, cutuco os cantos das unhas, imaginando o que me aguarda no dia seguinte, na semana que ainda vai começar, no ano que está por vir. Quem quer saber o que vai acontecer daqui há um ano? É informação demais, é tudo demais.
Ligo para o que nem está ao meu dispor, não por mal, mas simplesmente por necessidade de ter controle. Coisas que nem são tão importantes ou que são incontroláveis, apesar de eu querer resoluções e respostas nos momentos em que elas certamente não existirão. São milhares de porquês, que seguem para um quando, como ou onde, e isso não acaba nunca.
A minha mente ansiosa pode até parecer inocente, mas não dá uma trégua sequer. Até nos meus sonhos eu consigo criar indagações que me martirizam nos momentos em que devia estar descansando e curtindo a vibração. Ser tão pensante cansa.Machuca. Inquieta.
Queria pensar menos nas coisas que me fazem roer as unhas que agora já nem existem mais. Talvez elas ainda existiriam se eu fosse diferente. Ou talvez eu ainda faria as mesmas coisas e roeria as mesmas unhas, quem é que pode afirmar. Sei lá, no caso de dúvida, acho que preciso roer mais alguns cantinhos perdidos enquanto penso nisso também.