Amanda Ághata Costa – Escritora
Já carreguei fardos muito pesados ao longo de um tempo do qual possa me lembrar. Não me refiro aos pesos que podem ser carregados nos braços, arrastados por uma alça larga de couro ou algo desse tipo. Eram bem piores, daqueles que pesavam na alma e criavam crateras dentro do peito, onde nada me parecia suficientemente capaz de reparar o espaço aberto.
Para começar, houve o fardo da repetição. Tudo o que os outros faziam, eu queria fazer igual para me encaixar. Sorrir e agradar, dizer sim para não ser ignorada. Esse tipo de fardo me gerou um tipo específico de dependência e medo da reprovação por muitos anos. Não poderia agir como eu mesma, ou correria o risco de perder amizades, perder posições importantes, perder qualquer coisa que viesse ao caso, e que consequentemente nesse caso eu não estava disposta a abrir mão. Nada que fosse dito me faria abrir os olhos, mas eu estava naquele momento criando inseguranças que vieram prontamente no combo do meu fardo.
Depois veio o fardo dos pensamentos reprimidos e dos sentimentos machucados que não podiam ser expostos, pois o mundo não estava nem um pouco afim de ouvir suas lamentações. Isso era o que todos diziam. Talvez nem todos os anos de terapia disponíveis, reparariam os danos que as mágoas guardadas viriam a representar nos meus comportamentos futuros. O fato de me limitar, e também limitar tudo o que eu sentia, foi gerando um monstro frio e calculista dentro de mim do qual custei a me livrar.
Fardos assim parecem ingênuos e incapazes de gerar grandes impactos, mas eles ferem muito, e com muita intensidade sem sequer dar tempo de reparar na ação deles. Esse tipo de coisa mexe com a mente e se o mal não for cortado pela raiz, rapidinho dá para se perder dentro do próprio fardo.
Não dá para não ouvir a própria voz, que fica ecoando em algum lugar, seja na cabeça ou no peito. Essa voz, que muitas vezes contraria tudo e todos, é quem faz os fardos parecerem pequenos até chegarem ao ponto de sumirem. No meio de tantas vozes e tantas objeções frequentes, a própria voz é a chave de tudo. Principalmente, para eliminar esses trocentos fardos chatos e pesados.