Amanda Ághata Costa – Escritora
Haviam mortos clamando por piedade, enquanto no ápice deste instante, alguns vivos esbanjavam redenção. No meio disso tudo, tinha quem nem sequer entendia o que de fato estava fazendo nesse mundo, e depois ainda estava eu, estendendo os lábios num sorriso desajeitado enquanto os olhos cintilavam feito uma porção de mil estrelas petrificadas. Pensando na magnitude de todas essas possibilidades, e do quanto somos poeira em um grande espaço do planeta.
Foi assim, com um tinteiro apoiado numa superfície qualquer, uma caneta entrelaçada entre os dedos, um fragmento de um papel qualquer sobre as pernas, e o coração clamando por alguma comoção, entreguei minha alma às páginas em branco. E a elas, desde então, pertenci.
Escrever sempre me fez ser menos minha, ao mesmo tempo em que me fazia ser mais inteira para o mundo. De um jeito que eu nem poderia explicar, embora tentasse encontrar as palavras mais bonitas e marcantes, transcrever todos os sentimentos que borbulhavam dentro de mim em folhas de papel sulfite ou em pedaços de papelão espalhados pela rua, traziam um sentido para a minha vida que em nenhum outro lugar eu havia encontrado.
Desde que eu pudesse viver todas as vidas que eu gostaria de viver, através do que saía da minha mente em frases delicadamente pensadas, e pudesse escrever cada minúscula letra em anotações sinceras, eu estaria feliz. Não falando de uma felicidade falsa, mas de uma felicidade absurdamente genuína.
Ninguém poderia separar uma escritora de seus pensamentos e da sua necessidade em expô-los ao mundo,assim como não se poderia separar o calor do fogo, nem qualquer outra coisa que tenha nascido para ser exatamente de determinada maneira.
Às vezes nem todos conseguiam entender, nem sabiam como explicar, pois mentes tão confusas não conseguiam focar no que deveriam no momento certo. Apenas uma escritora afiada, com sua mente incansável e observadora, poderia definir o que a maioria não gostaria de entender. Fosse na dor ou no amor, passasse o tempo que fosse, eu continuaria lá, para que um dia os vivos e os mortos enfim percebessem o que estava tentando dizer todo esse tempo.