Amanda Ághata Costa – Escritora
Os meus pés ainda estão sujos da terra que manchou meu vestido, minhas mãos e meu rosto. Era uma noite tão chuvosa que mal se via a estrada pelo lado de dentro do carro, você deve lembrar bem disso. Minhas lágrimas intrusas se misturavam com as gotas que caíam acima de nós, enquanto você cerrava as mãos contra o volante, na expectativa de que tudo acabasse logo. Essas memórias não se apagam do meu cérebro, embora os esforços ainda sejam contínuos.
Talvez tenham passado minutos ou dias, já não sei mais. Continuo sentindo os grãos de areia e de barro imundo embaixo das minhas unhas, enquanto olho a vida passando pela janela. Nisso tudo, não sei onde errei, porque nunca tive a chance de sequer te perguntar o que houve de tão falho em minhas escolhas.
Entre gritos e gestos, eu estava tentando lhe mostrar coisas das quais você tanto duvidava, aquelas que deveriam ser impossíveis para mim. Era o que você dizia. Eu não deveria provar nada a ninguém, mas esta mania de querer consertar até mesmo o que não possuía conserto, sempre foi uma das minhas maiores reticências. Isso nunca mudou, e por mais que tentasse agir diferente, não seria agora que eu alcançaria tamanho feito.
Pelo menos naquele momento eu não consegui, e levou um tempo até que isso acontecesse. Jogar a areia para o alto junto com todos os meus receios me fez ser novamente livre, e eu gostaria que, de onde quer que você esteja me vendo, seja capaz de perceber que embora eu aparente estar imunda, meu coração está mais limpo do que jamais esteve.