Amanda Ághata Costa – Escritora
Meu nome não é Maria. Eu não chorei sobre tua lápide; pelo contrário, cuspi no solo em que enterraram teu corpo, desejando que as larvas ingerissem a tua carne com maior rapidez. Os pecados estão todos sendo aspirados por aqueles que agora oram pelo teu espírito.
Os pássaros negros continuam viajando pelos céus, pois sabem que o odor de morte ainda exala da vida dos que te adoram. Eles amam a podridão que salta da pele destes adoráveis estranhos.
Meu nome não é Maria, e detestaria que assim me chamasse. Os meus olhos arderam em misericórdia apenas uma vez em vida, e depois deste ocorrido, hoje saltam chamas por rancor acumulado. Alguns diriam que sou o demônio, ou que as palavras que escapam de meus lábios são repletas de ódio. Eles esquecem-se que a visão lhe propicia feitos, mas jamais conhece a plena verdade.
E a verdade, meu querido, ambos compreendemos. Metade dela está enterrada, aonde quer que esteja, mas a outra permanece intacta para me atormentar pelo resto dos dias.
O meu nome, de fato, não é Maria. E as tuas últimas palavras quase causaram destruição. “Você está aos pedaços. Eu jamais poderia amar os seus inúmeros cacos de vidro.”. Os meus pedaços estão mais minúsculos, mais dolorosos, mais instáveis. Eles ainda queimam feito o ferro se fundindo contra o fogo, por serem tão pequenos, tão indesejáveis, tão substituíveis.
Meu coração foi entregue em tuas mãos contendo todas as falhas e incertezas. Você desejou apenas a porção saudável, a mais bonita, a mais adorável. As trevas permaneceram isoladas, intocáveis. Enquanto eu chorava minhas lágrimas de sangue e desespero, que continham cada minúsculo caco de vidro, você desviava continuamente a atenção para o lado oposto.
Um dia, já me chamaram de Maria. Hoje, me conhecem por solidão.