Na semana passada, o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) revogou a prisão de Zulmar Schiestl, marido de Rozalba Maria Grimm, acusada de matar Flávia Godinho Mafra e retirar o bebê de seu ventre, em 27 de agosto.
A decisão foi tomada após análise dos áudios e trocas de mensagens extraídas dos aparelhos celulares apreendidos e periciados pelo Instituto Geral de Perícias (IGP).
Em entrevista ao Portal Olhovivocan, o agente de Polícia Civil, Leandro Pedro Rodrigues, detalha a investigação que esclarece que Schiestl foi mais uma vítima de Rozalba, a qual o enganou o tempo todo.
“Mesmo após a confissão de Rozalba e o marido afirmando que estava em casa, deitado, no momento do crime, precisávamos verificar os fatos. Embora tivesse a confissão, era preciso de outros elementos para o processo investigativo”, informa o policial.
Foram analisadas as imagens do prédio em que o casal reside. Dias após o crime foi possível concluir que não havia participação material do marido, sendo confirmado o que disse em depoimento policial.
“Mas isso não bastava, pois não se descartava a possibilidade de uma autoria intelectual ou omissão, caso soubesse da situação ou em algum momento tivesse ciência do crime. Precisava que todos esses elementos fossem trazidos à tona”, diz.
A vinda dos dados colhidos dos celulares deixaram a investigação mais clara. Foi então, segundo Rodrigues, que ficou esclarecido a maneira como Rozalba também enganou o próprio marido.
Exames falsos
Segundo foi possível constatar pela investigação, Schiestl trabalha em uma empresa da família, em uma cidade na região de Brusque. Durante a semana ele ficava naquela cidade e retornava para casa somente nos fins de semana. Algumas vezes, inclusive, ficava até no fim de semana, dependendo da demanda de trabalho.
“Foi possível perceber que nesse vácuo da ausência dele a autora agia. Desde o começo que alegou uma gravidez, ela começou a informa-lo das consultas falsas. Mandava fotos da barriga supostamente crescendo, marcava exames e dava pareceres médicos falsos”, conta o agente de polícia.
Pela análise de dados foi confirmado que ela tinha mais contato com vizinhos e até familiares dela do que com o próprio marido.
“Esse período que ele estava fora de casa certamente foi fundamental. Inclusive, tem um determinado momento que ele faz questão de participar dos exames e discute com ela por não estar participando. Ele queria ser um pai presente e reclamou disso. Numa das conversas ele ainda diz que o pai parece o médico, porque ele nunca está presente”, detalha.
Com a pressão do marido, Rozalba “marca” uma consulta para ele participar. Ele então a questiona para poder sair do serviço mais cedo e no decorrer da conversa, ela manda uma mensagem falsa. “Ela escreve uma mensagem e alega que foi a médica que enviou. Ficou muito claro que era falsa, porque a mensagem era cheia de erros de português grosseiros, que não combinam com a formação de um médico, e ela engana ele”.
Dia do crime
No dia do crime, Schiestl estava em casa e Rozalba forja uma situação. Ela sai de casa e dá uma desculpa por áudio para o marido, dizendo que foi levar uma parente no bairro Galera.
Algumas horas depois, ela manda outros áudios e diz que ganhou o bebê dentro do carro e pede para ele ir, rapidamente, ao encontro dela. “Ele se mostra todo perdido na conversa, e diz que ela deveria ter voltado pra casa mais cedo e sai à procura dela”, conta o agente.
Ele encontra Rozalba no caminho, já socorrida por outras pessoas e a conduz ao Hospital de Canelinha.
“Foi então que chegamos a um ponto importante, que foram os documentos e pertences de Flavia encontrados no apartamento do casal, e que apontavam para uma participação do marido no crime”, destaca o policial.
Pessoas do próprio hospital informaram à polícia que viram uma bolsa estranha e um aparelho celular dentro dos objetos que Rozalba levou para dentro do hospital.
Em um novo depoimento de Schiestl, ele afirma que Rozalba disse que eram de uma amiga que tinha esquecido no carro. Então ele levou para casa esses pertences, junto com as compras que estavam no carro, e os retirou antes de ir para Florianópolis acompanhar a recém-nascida.
“A declaração dele não bastava, não era suficiente para dizer que ele não sabia que os objetos eram de Flavia. Mas, ficou claro após a análise dos dados telefônicos”, complementa o policial.
Na madrugada do dia 28 de agosto, Rozalba relatou para o marido, em troca de mensagens, que a Polícia Militar estava a pressionando. “A PM, de forma inteligente, percebeu a situação do desaparecimento de Flavia e o estranho caso de Rozalba, e a visitou algumas vezes no hospital, o que a deixou incomodada”, conta Rodrigues.
Numa troca de mensagens, o marido, que estava em Florianópolis, questiona ela: “Essa tua amiga desaparecida é aquela que esqueceu os documentos no carro?”. E Rozalba responde: “Não, essa é outra, essa é a Flavinha”.
Ali ele se mostra totalmente alheio à situação, e que, assim como todas as outras pessoas, foi mais uma vítima da própria esposa.