No sábado, 12, São João Batista se despediu de Altamiro Natalino Belletti, ou como era mais conhecido, o Belletti da Apae. Aos 68 anos, ele não resistiu ao tão cruel coronavírus, e morreu às 18h55, no Hospital Imaculada Conceição, em Nova Trento.
Belletti era casado com Maria Sueli, e desta união nasceram duas filhas, Cátia e Aline. Foi morador do Centro, precisamente da rua da Apae, onde teve presença marcante por 19 anos, ao exercer mais do que a profissão de motorista.
A presidente da Apae, Maria Valquíria Puel, conta que Belletti foi cedido pela prefeitura para atuar na instituição, e desde que iniciou, vestiu, literalmente, a camisa. “Ele foi mais do que motorista, era zelador, estava sempre atento, e era também o responsável pelo nosso ginásio. Não tem como falar da Apae sem lembrar do Belletti ou falar no Belletti e não lembrar a Apae”, conta.
Mesmo doente, não deixou de visitar a entidade e verificar como estavam as obras de reforma. “Na semana antes de ir para o hospital ainda esteve aqui com a camisa da Apae, conversou, brincou e fez as piadas dele, sempre alegre”, lembra a diretora Kamily Peixer Gatis.
Para a Apae, a morte de Belletti foi uma grande perda. “Ele brincava com todos os alunos, dava apelido para cada um. Era muito comprometido, estava sempre de olho em nossa horta”, acrescenta a diretora.
“Ele foi um irmão, amigo, pai e um conselheiro, com simplicidade, humildade, responsabilidade, e de um caráter sem igual. Vamos sempre lembrar dele como o Belletti da Apae”, emociona-se a presidente.
Ano passado, quando a entidade completou 35 anos, Belletti foi também homenageado e recebeu o certificado pelas mãos de Rosangela dos Santos, a primeira diretora da Apae, e com quem ele iniciou os trabalhos.
A autodefensora da Apae, Dayana dos Santos, já sente saudades de Belletti. “Era um pai para nós, um amigo e um motorista muito legal. Ia todo dia na Apae ver nós e me chamava de Baiana. Agora está no céu com Deus”, diz.
A mãe dela, Viviane Cipriani, acrescenta que a Apae era a família dele também. “Ele era muito especial, e deixou muita tristeza pela falta que fará”.
Complicações da doença
A filha Aline Belletti Maffezzoli explica que, em 2016, Belletti descobriu ser portador de uma doença rara: a Dermatite Granulomatosa Anelar, na perna direita.
Um dos medicamentos utilizados para o tratamento comprometeu 50% dos pulmões. Em julho de 2017, após um mês internado em Florianópolis, descobriu-se outras duas doenças: pneumonite por hipersensibilidade e apneia do sono, que o deixou dependente de oxigênio mecânico e do uso de um aparelho chamado Cepap.
“Infelizmente a Covid-19 que o pai contraiu passou de viral à bacteriana, entrando na corrente sanguínea e afetou rapidamente todos os demais órgãos”, conta.
No início de setembro, Belletti deu entrada no hospital de São João Batista com falta de ar maior que o normal. Foi feito o teste rápido, que deu negativo. Porém, no teste do cotonete o resultado foi positivo. Com isso, ele foi transferido para Nova Trento e dois dias depois da alta, os demais sintomas de Covid começaram a aparecer. Ele retornou para o hospital na noite de sexta-feira, 11, e na manhã de sábado foi intubado, mas não resistiu e morreu no fim da tarde.
Homenagem da família
Ele foi o nosso maior exemplo! Um grande pai, amigo e conselheiro. Exerceu carinhosamente e tão bem, o papel de pai, sempre muito presente e prestativo, tão focado em manter a família sempre unida.
Essa pessoa tão humana, carinhosa, especial, paciente, super paizão coruja, super protetor, super engraçado, tão super pai. Tão super, que faltam palavras e sobram lágrimas para descrever este ser humano tão incrível e tão querido em nossas vidas. Sempre nos incentivou à estudar e correr atrás de nossos sonhos.
Ele nos mostrou os verdadeiros valores e nos ensinou o lado mais simples e o mais valioso da vida. Sempre com sorrisão largo no rosto, com as histórias e piadas. Sempre bem, mesmo quando não estava.
Quando saíamos juntos, não havia quem não o conhecesse, não o cumprimentasse, não ganhasse um apelido irônico dele, porque meu pai era tão engraçado e alegre, não havia tempo ruim.
“Pai seu caráter e sua generosidade são as heranças mais valiosas que você poderia deixar”, afirma a filha Aline.
Um bom pai, um marido zeloso, um sogro querido, um filho dedicado, um profissional exemplar. E doente, foi um guerreiro.
“Pai, em meu coração o senhor sempre terá um lar”, pontua a filha Cátia.