Juliano César
A série Memórias da Colônia, fruto da parceria entre o Correio Catarinense e a Escola de Educação Básica Lídia Leal Gomes, de Tigipió, em São João Batista, apresenta uma história quase que esquecida pela população local. No dia 3 de setembro, o episódio ‘O som do desespero’ apresentou memórias associadas a Martinho Marcelino de Jesus, o Martinho Bugreiro. No texto da estudante Liriane Garcia, após entrevista com pessoas da comunidade, apresentou a inserção de indígenas xokleng – provocada pela atuação bugreira em meio a terras indígenas – a vida colonial em Boa Vista, hoje Tigipió.
Segundo o professor e mestre em História, Malcon Gustavo Tonini, coordenador do projeto na escola , a história faz sentido e apresenta indícios relacionados aos assassinatos dos xokleng, por capitães do mato contratados pelo estado para uma ‘limpeza étnica’ no início do século XX em terras de Blumenau.
Na década de 1920, período provável em que Martinho teria trazido as meninas indígenas para Tigipió e as entregue para a criação junto aos colonos locais, foi época onde ele teria atuado comandando diversas expedições no Vale do Itajaí. Em serviço em Blumenau, teria sido fotografado ao lado de vítimas Xokleng sobreviventes de suas incursões, que promoveram assassinatos em nome da segurança de colonos europeus que estavam se fixando na região.
Crianças indígenas trazidas e incorporadas à região de Boa Vista e fazendas do planalto catarinense pelos bugreiros eram como troféus. E o número de vítimas sobreviventes – geralmente crianças femininas – não é pequeno. Segundo Malcon, Boa Vista estava no mapa bugreiro, como destino, pois Martinho Bugreiro, apesar de nascido em Bom Retiro na serra catarinense, morou parte de sua vida em terras que hoje fazem parte do distrito. Além disso, alguns de seus ‘capangas’ são naturais de Tigipió e da região que hoje faz parte do município de Major Gercino.
Hoje, os xokleng lutam pela demarcação de terras na região de Blumenau. A população é de cerca de 2,3 mil integrantes.