Cristiéle Borgonovo
A semana foi marcada por intensas limpezas e manutenções nos cemitérios do Vale do Rio Tijucas. Em São João Batista, a movimentação no Cemitério Municipal, localizado no Centro da cidade, chamou a atenção de quem passava pelo local. Familiares dedicaram-se à limpeza dos túmulos, à troca de flores e ao acendimento de velas como forma de homenagear aqueles que já partiram. Essa movimentação é uma preparação para o Dia dos Finados, que será no próximo domingo, 02.
A Prefeitura de São João Batista, por meio da Secretaria de Infraestrutura, também realizou diversas ações de manutenção, como reparos, pinturas, recolhimento de entulhos e retirada de flores antigas.
A aposentada Eladir Zunino, 68 anos, é um exemplo de quem mantém viva essa tradição. Com mangueira, sabão e vassoura, ela se dedicava à limpeza do jazigo da família. Natural de São João Batista, Eladir mora há 12 anos em Itapema, no Litoral Catarinense, mas faz questão de retornar todos os anos, na semana que antecede o Dia de Finados, para cuidar do espaço onde repousam os entes queridos.
“Para mim, isso é um ato de amor, uma forma de demonstrar carinho por aqueles que já partiram”, afirma. Ela relembra que o hábito de limpar os túmulos surgiu na infância, quando acompanhava a avó, que tinha dificuldade de locomoção, e a mãe nas visitas ao cemitério. “Esses momentos criaram em mim um laço forte de amor. Hoje, o que posso fazer é orar e deixar tudo limpo e organizado, como sinal de respeito e gratidão”, relata.
Eladir define esse gesto como uma expressão de amor e fé. “As lembranças vêm todos os dias, e há momentos em que a saudade aperta, mas as memórias de alegria, exemplo e aprendizado prevalecem”, conta emocionada.
Já Zélia Nunes Teixeira, 79 anos, é moradora do bairro Fernandes, em São João Batista. Ela e o marido Antônio Avelazio Teixeira, 82, faziam a limpeza do túmulo onde estão os pais dela e um irmão. Zélia conta que sempre realiza a limpeza para esperar do Dia de Finados, que esse hábito veio da mãe. “Naquela época, minha mãe não enfeitava com flores de plástico, ela fazia uma coroa com arame e papel crepom, uma verdadeira obra de arte. Encapava o arame com verde, fazias as flores, as folhas e ia montado toda de forma artesanal’, relembra.
Para ela esse ato de limpar, enfeitar com flores, fazer uma oração, pois é católica participante das missas e ministra da Eucaristia é uma forma de respeitar a memória dos entes queridos que partiram, porém continuam vivos nas lembranças. Outro fato no qual recorda, é que ao lado dos pais, eles saiam lá do bairro Fernandes a pé e vinham no cemitério no Dia de Finados.
Agora com a idade mais avançada o casal conta com a ajuda de outros familiares para fazer a limpeza e enfeitar os túmulos, mas fazem questão de estarem presentes para ajudar, mesmo que de forma mais moderada.

Padre Elinton Costa fala sobre o sentido cristão do Dia de Finados
O padre da Comunidade Bethânia, Elinton Costa, reflete sobre a importância do Dia de Finados na perspectiva da fé cristã. Ele explica que a data não deve ser vivida com tristeza, mas com esperança. “O Dia de Finados é um convite para olharmos a morte com os olhos da fé e lembrarmos que, em Cristo, a morte não tem a última palavra. À luz do Evangelho, esse dia nos recorda que fomos criados para a eternidade. A saudade que sentimos de quem partiu é sinal do amor que permanece e da certeza de que a vida continua em Deus”, afirma.
O sacerdote recorda uma frase marcante do Servo de Deus Padre Léo: “A presença física é a mais pobre das presenças. Quando aprendemos a ter as pessoas no coração, elas nunca nos deixam.”
Padre Elinton destaca que celebrar o Dia de Finados é renovar a fé na ressurreição e reconhecer que a cruz e a morte são passagens, não destinos. “Jesus venceu a morte e nos prometeu: ‘Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá’ (Jo 11,25)”, recorda.
Ele também reforça que o momento é propício para rezar pelos familiares e amigos falecidos. “Vale a pena visitar o cemitério, fazer uma prece e oferecer orações. Quem se confessar, participar da missa, comungar e rezar no cemitério pelas intenções do Santo Padre o Papa, um Credo, um Pai-Nosso e uma Ave-Maria, poderá receber indulgência plenária”, explica.
Além das orações, o padre convida à reflexão pessoal. “Ao caminhar pelo cemitério e olhar as lápides de pessoas conhecidas, aproveite para se perguntar: estou caminhando para o céu? Tenho deixado rastros de Deus por onde passo?”, provoca.
Padre Elinton encerra com uma mensagem de fé e propósito: “Que este dia nos inspire a viver com mais amor, mais fé e mais eternidade no coração. Não temos uma vida para errar e outra para acertar; temos uma única vida para amar e eternizá-la no céu.”
Como canta Thiago Brado, “Passado não volta, futuro não temos, e o hoje não acabou. Ame mais, abrace mais, pois não sabemos quanto tempo temos para respirar. Fale mais, ouça mais a vida é curta demais.”
A vida, conclui o padre, “é um sopro. Não deixe o tempo enganar; só o amor salva. A morte é apenas o início da vida plena em Deus. Vem para a vida!”.
 
        


