Natália Peixer Paz – 3ª série do E.M
Para quem viveu na década de 1980, no distrito de Tigipió, sabe que por lá passaram algumas pessoas peculiares e que marcaram a infância e a juventude desta época. Uma delas teve por apelido “Noca”, diziam se chamar Paulina, uma senhora que até onde o povo tinha conhecimento morou na localidade de Negra Chica, no município de Major Gercino.
Noca tinha uma filha, mas quando perambulava por aí já era viúva. Como de costume, usava um vestido preto até os pés, que representava o seu luto. Ninguém sabia sobre o fato de como ou porque ela havia perdido as suas faculdades mentais, mas o que se via era uma senhora que todos os dias passava em Tigipió com a mesma roupa, já surrada, descalça e totalmente despenteada. Andava pela beirada da estrada desde Negra Chica até a Colônia Nova Itália. Possuía o hábito de falar sozinha, às vezes resmungava, pensando alto, e outras vezes gritava palavras que os moradores que a encontravam não conseguiam decifrar.
Noca tinha o hábito de recolher papéis que encontrava pelo chão e colocava dentro dos bolsos de seu vestido. Era comum encontrá-la com os bolsos cheios de papel. As crianças tinham as mais variadas reações quando ela passava próxima as suas residências, algumas iam até perto dela e a chamavam, ela por sua vez corria atrás da garotada. Muitas tinham medo, pensando que fosse uma bruxa. Diziam que poderia pegar crianças e as levar com ela.
Muito pouco se sabe sobre Noca, mas quando tinha fome pedia comida, nunca roubou nada. Ficava muito feliz quando Conceição Peixer lhe dava um belo pedaço de polenta fria. Guardava embrulhada em papel de pão e comia pela estrada. Noca tinha umas frases que eram como bordões, dizia ela: “O homem quando tem amante, a mulher comia linguiça e a amante carne de primeira. E a mulher só usava vestido de chita, e a amante um vestido de seda.”. Sabe lá o que havia acontecido com Noca, quando o marido ainda era vivo!
Em muitas moradas de velhos conhecidos de Noca, ela fazia paradas, descansava, se alimentava e até dormia. Geralmente apesar das situações inusitadas que provocava, muitos se divertiam. Sobre a filha, nada soubemos, mas podemos ainda encontrar muitos que conheceram e conviveram com Noca em suas andanças. Cantava Noca: “Ô jardineira por que estás tão triste, o que foi que te aconteceu, foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu!”.