Cristiéle Borgonovo
Neste domingo, 11 de maio, data em que se celebra o Dia das Mães, muitas famílias em todo o país comemoram com almoços especiais, presentes cartões, abraços apertados e muito amor. Mas, para a advogada Juliana Vicente, de 34 anos, natural de Canelinha, essa data representa muito mais do que uma celebração tradicional: é a prova viva de que a maternidade vai muito além da genética. Neste Dia das Mães, ela comemora três anos desde que se tornou mãe de Antony Gabriel, nove anos, e Dhérika Vitória, 13 anos, dois irmãos que chegaram por meio da adoção tardia. Uma história de amor à primeira vista, gestada no coração.
Desde pequena, Juliana sonhava com a maternidade. “Brincava de bonecas imaginando que eram meus filhos. Cresci rodeada de crianças. Eu e minha sobrinha mais velha temos apenas três anos de diferença, e na adolescência eu era babá. Mais tarde, fiz estágio na Apae – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – com a professora Neusa, numa sala de estimulação precoce. Sempre estive cercada de crianças”, relembra.
A decisão de adotar surgiu após a tentativa frustrada de engravidar. “Não conseguimos por questões de infertilidade. Até buscamos ajuda médica e o médico sugeriu fertilização in vitro, mas senti que aquele procedimento não era para mim. Conversamos e optamos pela adoção. Foi doloroso saber que eu não poderia engravidar, parecia que faltava um pedaço de mim, logo eu, tão apaixonada por crianças.”
A escolha pela adoção tardia
Inicialmente, o casal se cadastrou para adotar uma criança de 0 a 3 anos, com possibilidade de vir acompanhada de um irmão até essa mesma faixa etária. “Como todos sabem, a espera por bebês na fila da adoção é longa. Já estávamos há três anos esperando. Minha ansiedade falou mais alto, eu queria ser mãe. Foi quando comecei a refletir: por que não adotar uma criança maior?”
Em Santa Catarina, o sistema Busca Ativa apresenta perfis de crianças e adolescentes que estão disponíveis para adoção, mas que não se enquadram no perfil mais procurado pelos adotantes. “Ali encontramos crianças com deficiências, grupos de irmãos. Foi nesse sistema que encontrei os amores da minha vida, depois do meu marido, André.”
Juliana viu a foto de Antony Gabriel, então com seis anos. “Ele tinha um sorriso radiante. No cadastro dizia que fazia parte de um grupo de irmãos. Senti um frio na barriga. Sabia que ele era o meu filho, mas fiquei apreensiva quanto ao número de irmãos. Tomei coragem e cliquei. Foi o clique mais emocionante da minha vida: apareceu a foto de Dhérika, com quase 11 anos, cabelos cacheados e um olhar doce. Naquele momento, eu soube que eram meus filhos.”
O pequeno Antony apresentava diagnósticos de TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – e TOD – Transtorno Opositor Desafiante. “Antes mesmo de contar ao meu marido, fui pesquisar o que era TOD. Eu precisava entender para me preparar. Além de mãe adotiva, me tornei mãe atípica.”
Com amor e dedicação, Juliana buscou tratamento terapêutico para o filho. “Hoje ele tem uma vida normal, é estudioso, tira notas excelentes. A Dhérika também chegou com dificuldades de aprendizagem, mas com acompanhamento superou os desafios. Recentemente, descobriu-se poetisa e vai lançar um livro em breve.”
O processo de adoção legal envolveu uma série de etapas. “Tivemos que passar por avaliação psicossocial, curso, apresentar documentos. Muitos criticam a burocracia, mas entendo que é necessária. As crianças acolhidas já passaram por muitas situações traumáticas. A nova família precisa ter estrutura emocional para amparar.”
Segundo Juliana, os desafios surgiram mesmo foi na convivência. “Conhecemos os dois e em duas semanas já estavam morando conosco. A adaptação é para todos: crianças e pais. As pessoas romantizam a adoção, dizem ‘que lindo gesto’, mas o dia a dia é desafiador. Vale a pena? Vale muito. Faria tudo de novo.”
Apesar das dificuldades, Juliana nunca pensou em desistir. “Com TOD, foi desafiador. Mas nunca cogitei desistir. Pensei em buscar ajuda. O que me deu força foi o amor. Mães de verdade não desistem de seus filhos.”
Amor à primeira vista
O primeiro encontro foi marcante. “Entrei pela porta do acolhimento e Antony veio correndo: ‘Eu sei que você é minha nova mãe!’. Foi emocionante. Dhérika, mais velha, me chamava de tia. Um dia, disse que poderia me chamar de mãe quando se sentisse pronta. Quando me chamou de mãe pela primeira vez, foi maravilhoso. Depois disso, nunca mais me chamou de outra coisa.”
Construir o vínculo afetivo foi um processo de escuta e aceitação. “Eles têm um passado. Me contam sobre a mãe biológica, a avó, familiares. Nunca critiquei. Já me perguntaram se tenho ciúmes. Não. Tenho gratidão. Essa mulher gerou meus amores. Que Deus a proteja.”
Juliana abriu mão de muitas coisas pela maternidade. “Era ciclista amadora, não consegui mais pedalar com amigas. Mas o prazer de ser mãe compensa. Acampamos juntos, passeamos de bicicleta, vamos ao clube de Aventureiros e Desbravadores. Me sinto realizada.”
Para ela, ser mãe é amar. “Amar é cuidar, proteger, corrigir, acolher, sustentar, guiar, contar histórias, aconselhar. Ser mãe é tudo isso.”
Com os filhos, aprendeu que amor não se divide, se multiplica. “Havia espaço no coração deles para mais uma mãe. E no meu, para dois filhos.”
Filhos criados nos ensinamentos de Deus
Juliana é cristã e membro ativa da Igreja Adventista do Sétimo Dia. “Procuro educá-los segundo os ensinamentos de Jesus. Quero que sejam bons cidadãos aqui e, um dia, na eternidade.”
Para quem pensa em adotar, especialmente de forma tardia, deixa um conselho: “Pesquisem, estejam preparados para a adaptação. Muitos não se preparam e devolvem crianças, causando mais traumas. A adoção tardia é linda, desafiadora e um privilégio, desde que feita com consciência.”
E para quem ainda tem receios: “Escute seu coração. Não dê ouvidos a preconceitos. Se eu tivesse dado, hoje não seria a mulher mais feliz do mundo por ser mãe.”
Neste Dia das Mães, a história de Juliana Vicente mostra que a maternidade não está apenas no sangue ou na gestação, mas no amor construído dia após dia, no cuidado, na dedicação e na escolha corajosa de amar. Como ela mesma diz, foi amor à primeira vista. Amor que transforma. Amor que faz nascer uma família.