O aniversário de 109 anos do início da Guerra do Contestado, celebrado na sexta-feira, 22, foi o assunto pautado pelo deputado Kennedy Nunes (PTB) durante a sessão ordinária da Assembleia Legislativa desta quinta-feira, 21. Os parlamentares que se manifestaram sobre o assunto defenderam que essa história precisa ser contada para que não seja esquecida.
Por solicitação do deputado Kennedy, foi exibido depoimento em vídeo da historiadora Rosa Maria Tesser, que falou sobre a sangrenta guerra iniciada em função de uma disputa de limites entre os estados de Santa Catarina e Paraná. Rosa Maria relatou que a guerra começou por questões de limites e depois teve desdobramentos muito cruéis. “Veio a construção da estrada de ferro, com o capital estrangeiro se instalando no país, e por falta de critérios se gerou um grande problema social.” O governo brasileiro não teve o cuidado de amparar as famílias que viviam nas terras destinadas à estrada de ferro, conforme a historiadora. “Depois veio a construção da grande Serraria Lamber e a região enfrentou um conflito armado sem precedentes, que durou quatro anos. Perdemos muitas vidas, isso poderia ter sido evitado”, explicou.
Os sertanejos que lutaram na Guerra do Contestado queriam apenas a preservação das terras que ocupavam para viver com suas famílias, conforme lembrou a historiadora. “Há lugares que ainda sentem as lembranças doídas da perda do ser humano. Vamos cuidar da nossa história. A Guerra do Contestado não deixa de ser a identidade do povo catarinense”, disse Rosa Maria. Ela pediu que a Assembleia Legislativa ampare a região do Contestado, olhe para a região com carinho.
Rosa Maria Tesser escreveu um novo livro sobre a Guerra do Contestado e espera viabilizar a publicação. O deputado Kennedy Nunes assegurou o apoio da Assembleia Legislativa a essa iniciativa, e tratará do assunto com a presidente da Escola do Legislativo, deputada Marlene Fengler (PSD).
Eventos culturais
O deputado Neodi Saretta (PT), que foi autor da lei que instituiu o dia 22 de outubro de 2012 como data do centenário da Guerra do Contestado, apresentou requerimento solicitando à Fundação Catarinense de Cultura (FCC) que sejam feitas atividades culturais alusivas ao tema. “Não podemos deixar essa memória se perder. Esse conflito foi um dos primeiros conflitos sociais do Brasil República. Por muitos anos não se falou muito dele.”
O deputado acrescentou que o Contestado foi um dos primeiros movimentos sociais de luta pela terra. “Não é uma data a se comemorar. É para lamentar que tenha havido esse conflito, e para que a gente não esqueça o que aconteceu no passado.”
O conflito
O deputado Silvio Dreveck (PP) lembrou que a Guerra do Contestado foi uma disputa por um espaço territorial, no caso a região do Planalto Norte, que marcou o estado de Santa Catarina, com um componente político muito forte. “Foi terrível porque as pessoas mais humildes, mais simples, foram as mais prejudicadas.” As implicações daquele período são tão fortes que ainda hoje há conflitos fundiários para legalização de áreas na região, segundo o deputado, poucos catarinenses têm conhecimento desses fatos tão relevantes. “Se os pequenos proprietários não tivessem se rebelado e lutado por aquele território, Santa Catarina hoje seria menor”, resumiu.
Dreveck concordou que é preciso valorizar o trabalho da historiadora Rosa Maria Tesser e disseminar esse conhecimento nas escolas catarinenses.
Em aparte, o deputado Moacir Sopelsa (MDB) assentiu que a história do Contestado é realmente pouco divulgada e precisa ser transmitida. Como futuro presidente da Assembleia Legislativa, ele assegurou que apoiará a iniciativa de publicação do livro para celebração dos 110 anos do conflito.