Neste Dia do Trabalhador, o Correio Catarinense escolheu histórias de profissionais que, em meio à pandemia do coronavírus, atuam na linha de frente, com amor e dedicação à profissão.
Exemplo disso, é o médico Ígor Martins de Menezes, 38 anos, que atua há quase 15 anos em São João Batista, nas Unidades Básicas de Saúde do Jardim São Paulo e Centro, e na clínica Consulmed.
Há pouco mais de um mês, o médico e toda equipe precisou adaptar a rotina de trabalho e de vida para seguir na luta contra a covid-19. Entretanto, estar na linha de frente, num serviço tão essencial como a saúde, é motivo de orgulho. “Sinto-me honrado com esta possibilidade. Nenhuma pessoa no mundo esquecerá estes dias e vou poder dizer que estive aqui”, afirma.
A paixão pela medicina surgiu ainda na adolescência de Menezes, quando se encantou com os desafios e complexidade da profissão.
Para o médico, juntar sinais e sintomas de uma queixa, na busca de um diagnóstico correto, como juntar peças de um intricado quebra-cabeça, é algo único. “É uma sensação maravilhosa poder trazer um pouco de conforto à uma pessoa, seja no alívio dos sintomas, ou na cura de uma doença, ou até mesmo guiar o paciente em um melhor caminho diante de seu problema”, orgulha-se.
História registrada
Além de médico, de Menezes é também escritor com uma trilogia já publicada. Contudo, a pandemia do coronavírus e toda a adaptação de sua rotina desde o início da doença também serão registradas em um livro, num futuro não muito distante, e com muitos detalhes. “Mas já posso dizer que muita coisa mudou, desde o momento em que saio de casa para trabalhar, pensar muito mais em tudo que se encosta até a próxima lavagem das mãos, nos cuidados de distanciamento quando converso com alguém no elevador ou no caminho até o consultório”, revela.
O médico destaca que o grande problema da pandemia é o fato de que cerca de 80% dos pacientes não apresentam nenhum sintoma. Então, a maioria dos infectados nem sabe que está infectado, e passa para muita gente ao redor. “Quando algum paciente no posto de saúde olha para mim ou qualquer outro profissional, usando todas aquelas vestimentas, máscara, óculos, protetor facial, deve ficar claro que estou, também, protegendo o próprio paciente. E quando o paciente usa máscara, está me protegendo também. É uma via de mão dupla”, explica.
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Proteger para se proteger
Não ter nenhum caso confirmado de covid-19 em São João Batista é motivo de comemoração para o médico. “Significa que estamos no caminho certo, fazendo o que é certo e no tempo certo. E isto se deve principalmente à população, que aderiu e cumpriu o isolamento social”, diz.
Por isso, de Menezes afirma que é importante manter os cuidados de prevenção, como cada vez mais o uso de máscaras, principalmente em ambientes fechados. “É claro que isto é uma situação que não estamos acostumados, mas com o passar das semanas ou meses nos acostumaremos à ela, como um adereço, um relógio, ou um colar”, lembra.
Também, é necessário manter o cuidado de não levar as mãos ao rosto, nariz e olhos. Lavar as mãos, para o médico, já virou uma compulsão, quase tanto quanto o álcool em gel. A rotina do médico, ao chegar em casa, também mudou. “Já na porta tenho que tirar toda a roupa, colocar para lavar e ir direto para o banho. Só depois cumprimentar a esposa e o cachorro. Os banhos chegam a ser duas a três vezes ao dia”, conta.
O médico ressalta que o isolamento social foi crucial para o sucesso até aqui. “Uma coisa que notei, e posso garantir que todos os demais médicos notaram, foi que diminuíram e muito, neste período, os casos de diarreia, conjuntivite, gripe comum, até mesmo sarna. São doenças comuns quando estamos próximos uns aos outros, então, se elas diminuíram, por dedução podemos afirmar que barramos o covid-19 aqui”, revela.
Um depois melhor
Apesar dos impactos catastróficos na economia e no modo de vida das pessoas, que poderão perdurar por meses ou até anos, de Menezes afirma que todo esforço fará com que todos saíam melhores do que eram antes. “Por mais duro que seja este momento, eu acredito na população batistense, pois foi aqui que decidi, já por 15 anos, trabalhar, morar e constituir família. Tenho certeza que, depois desta crise, sairá de São João Batista o sapato mais lindo do mundo”, garante.
Em relação ao medo do covid-19, o médico diz não ter, apesar de todo cuidado. “Não estou nesta batalha sozinho. Nossas ações formam um exército e vamos seguir lutando. Por isso, se puder, fique em casa. Se não puder, trabalhe como nunca antes, com amor, dedicação, muito suor, para nos recuperarmos o quanto antes dos efeitos desta pandemia”, frisa.