Stefania Gandin Marchi
Um dos preceitos da doutrina espírita e a orientação mais urgente é a necessidade de reformar-se intimamente, a tal da reforma íntima. Mas do que se trata tal termo? Como trabalhar isso na prática?
A reforma intima nada mais é do que buscar conter e modificar as más inclinações e tem o ponto de partida do ensinamento do famoso filosofo Sócrates, o “conhece-te a ti mesmo” que para ele seria o princípio para se ter uma vida mais equilibrada.
Conhecer a si mesmo é compreender as suas inclinações, ser honesto consigo mesmo, reconhecendo os pontos que precisam ser melhorados em nós mesmos. Perceber os nossos sentimentos e nossas atitudes perante o nosso próximo como para consigo mesmo, julgando-se da mesma forma como julgamos o nosso próximo. Partindo do conhecer-se busca-se o melhoramento dos pontos fracos.
A reforma intima é o ponto chave da nossa evolução moral, pois somente vamos evoluir moralmente quando começarmos a compreender, aceitar e melhorar os nossos pontos mais fracos, ainda dominados pela maldade. A maldade não está somente nos crimes violentos que vemos na TV e sim em coisas simples como a fofoca, a maledicência, o ato de julgar o próximo sem buscar compreender a verdade, o de fechar os olhos para algo que está acontecendo de errado, por não querer se envolver… enfim a maldade está em vários aspectos, cada qual com o seu “peso”.
Santo Agostinho nos deixa uma belíssima orientação na questão 919 de “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec, quando nos diz que uma forma de colocar em prática a reforma íntima é fazer o que ele fazia enquanto encarnado: ao deitar avaliar todas as suas atividades, pensamentos, e refletir se alguma atitude foi equivocada. Questionar-se se a atitude tomada seria repreensível se fosse realizada por outra pessoa e mais “(…)se aprouvesse a Deus me chamar neste momento, reentrando no mundo dos espíritos, onde nada é oculto, eu teria o que temer diante de alguém? (…) As respostas serão um repouso, para vossa consciência ou a indicação de um mal que é preciso curar.” (O Livro dos Espíritos, Questão 919).
Obviamente o processo do melhorar-se é algo lento, que demanda muita reflexão e muita vontade. Nós somos agentes de mudança e precisa partir de nós mesmos o desejo de reformar-se. É importante lembrar sempre da linda frase de Chico Xavier que ganha outro sentido quando falamos em reforma íntima: “ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo. Mas qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim”.
Todos nós recebemos a cada amanhecer uma página em branco do livro da vida que cabe a cada um de nós preencher. A decisão é sempre nossa. Claro que uma nova página não anula as demais já preenchidas, mas podemos sim trabalhar em uma nova versão de nós mesmos, registrando em nosso livro da vida todos os esforços que estamos fazendo para melhorar-se. Quem melhora vive melhor. Somos escravos das consequências dos nossos atos, portanto busquemos este melhoramento para que assim possamos ter o alivio da consciência e a evolução tão necessária.