Pe Elinton Costa, bth
“Vivemos esperando, dias melhores, dias de paz, dias a mais, dias que não deixaremos para trás…Oh oh… Vivemos esperando, O dia em que seremos melhores (melhores), melhores no amor, melhores na dor, melhores em tudo…” (Trecho da Música Dias Melhores – Jota Quest).
Esse trecho da música Dias Melhores da banda Jota Quest lançada há mais de 21 anos, fala da nossa realidade hoje em pleno 2021. Realmente nossa busca é por dias melhores, dias de paz, dias sem dor, dias com esperança e mais amor. Provável que seja nossa busca por muito tempo mais, pois a realidade divulgada nas mídias não é nada animadora. A pandemia tem roubado dias melhores de muitas famílias.
Aliada a pandemia observamos que também há um certo descuido por parte das pessoas que desejam dias melhores, em outras palavras, de todos nós. Focamos nossas energias e pensamentos em atitudes negativas, pessimistas. Sedemos à tentação de cruzar os braços, e, em boa parte das vezes, nem cumprimos a nossa parte para alcançar dias melhores.
Quem sabe encontremos a solução em um ensinamento antigo de um pensador que viveu aproximadamente entre os anos de 480 a 547, chamado São Bento de Núrsia. Ele foi o mentor do “Ora et Labora”. Inicialmente essa expressão remete ao conjunto de leis monásticas que rege a vida dos monges que aderiram a ordem de São Bento e que depois inspirou experiências cotidianas que transformaram a vida de muitas pessoas.
A tradução de “Ora et Labora” é, “reza e trabalha”. Simples assim, mas caracteriza um jeito de viver onde se une gratidão a Deus e espiritualidade à ação. Ao criar as leis que regem a vida de um mosteiro beneditino, São Bento foi muito claro em exortar cada um à vida ativa e não apenas dedicar-se ao estudo, à especulação intelectual ou contemplação mística.
A oração é importante e necessária, mas sem ação ela pode ser vazia. São Tiago nos lembra que “a fé sem as obras é morta” (Tg 2,26). Enquanto que o trabalho, a ação, sem oração perde o sentido de acontecer, de ser feito ou mesmo sua necessidade. Por isso é importante aliar essas duas realidades para: inspirar, encorajar e fortalecer o jeito de viver e lutar de cada um por dias melhores.
Mário Sérgio Cortella em uma de suas palestras falando sobre o tema “ora et labora” cita a regra de São Bento tendo especial apreço pela regra 34, “é proibido resmungar”, e segundo a regra, o monge que fosse pego fazendo isso era mandado embora da ordem. Ressalta o filósofo, que a regra não diz que é proibido discutir, debater ou discordar, mas sim somente proibido resmungar!
Segundo Cortella, o resmungão é aquele que diante da escuridão só reclama ao invés de acender uma vela. É também aquele que sempre diz “é preciso que alguém faça alguma coisa, é aquele que só lamenta. Quase sempre o resmungão é um vagabundo e o vagabundo é um pessimista. O melhor jeito de uma pessoa não fazer nada é dizer que nada pode ser feito. O que eu posso fazer aqui, se aqui é sempre assim! Fala sempre o resmungão. A única coisa que o vagabundo pessimista faz é sentar e esperar que tudo dê errado. E mesmo quando está dando certo o vagabundo pessimista diz: espera que você vai ver, que já vai dar errado”, afirma Cortella.
Padre Léo também proclamou em suas pregações que murmúrio ou o ato de resmungar é um louvor ao encardido. Ele trazia em sua pregação um exemplo comum entre fiéis, alguém que se aproxima dele e diz: “Ai padre, se o senhor soubesse o que eu já passei nessa vida, daria um livro, de tanto sofrimento”. E ao expressar sua reação diante do murmúrio enfatizava: “Então não escreve essa porcaria porque não quero ler, vive reclamando, então morre filha da mãe!
Padre Léo ensinava a não viver no passado, mas, sim sempre olhar com esperança para o futuro aliando oração à luta, à ação. De certa forma, atualiza aquilo que os apóstolos e também São Bento de Núrsia já nos ensinavam há séculos atrás: que a fé verdadeira se reflete em obras e que é preciso rezar sim, mas também trabalhar, agir.
Diante dessa reflexão, cabe-nos o questionamento: na busca e no desejo de dias melhores qual tem sido nossa postura? de resmungão vagabundo pessimista que cruzou os braços e espera tudo dar errado? ou de alguém que ora e trabalha realmente por um mundo melhor, por uma família melhor, por uma sociedade melhor? Não responda para mim, responda para si mesmo. Mas um conselho, quanto mais sincero for na resposta, mas chances de experimentar e viver dias melhores. Vamos juntos rezar e agradecer a Deus por tantas graças e bênçãos que Ele nos concede para que fortalecidos consigamos realmente trabalhar para um mundo melhor no amor, melhor na dor, melhor em tudo…
Deus abençoe.