Por Alessandra Destro Pizzigatti
Remédio para Duka
Texto extraído do livro acima do Lama Padma Samten, nos trazendo alguns conceitos no caminho do entendimento da vida.
O Budismo pode ser apresentado como um remédio para tratar a perda do reconhecimento de nossa natureza ilimitada. Seu efeito é curar-nos da experiência de existência limitada, com etapas de nascimento, crescimento, envelhecimento, doença e morte.
Quando o Buda era um príncipe, percebeu que todos os seres sofriam de uma mesma doença. No Oriente essa doença tem um nome específico – duka – , mas não existe termo correspondente nas línguas do Ocidente.
Embora todos tenhamos a doença, podemos não percebê-la. Trata-se de algo como alegria e sofrimento inseparáveis. Na visão budista existe uma única palavra para esses dois conceitos – eles não podem ser separados. Em nossas línguas acontece o contrário: os conceitos estão separados e não podem ser unificados em um único termo.
Duka pode ser explicado de forma simples a partir do fato de que, quando temos alegrias, elas constituem-se sementes de sofrimento. Essa é uma experiência cíclica – é como uma roda girando entre as polaridades de estar bem e estar mal. Gostaríamos de encontrar o freio quando estamos na região de felicidade e gostaríamos de acelerar quando estamos infelizes. Às vezes achamos que encontramos um regulador de velocidade, mas logo surgem problemas nessa tentativa de controle.
Um exemplo é o da mulher que deseja ter um filho. Quando o bebê nasce, ela pensa: “Que maravilha!” Depois ela percebe que tudo o que acontece ao filho a perturba intensamente. O sofrimento surge na exata medida daquela alegria. É assim em todas as relações humanas.
Outro exemplo: uma pessoa vê um ser maravilhoso, fantástico, inacreditável. Ela pede aos deuses: “Por favor, deixem-me chegar perto daquele ser maravilhoso”. Se os deuses estão de bom humor, podem até conceder alguma interação… E logo a pessoa descobre-se vigiando aquele ser, absolutamente insegura em relação à sua tênue conexão com ele. O mais curioso é que a intensidade da vigilância, a intensidade do sofrimento causado pela vigilância e a intensidade da insegurança quanto aos rumos da relação correspondem exatamente à atração exercida por aquele ser, ou seja, quanto maior a atração, maior a vigilância, o sofrimento e a insegurança.
Chamamos isso de duka. Não há como evitar essa inquietação. Para cada característica favorável que percebemos no mundo, existe um problema correspondente, exatamente do mesmo grau.
Outro exemplo: olhamos para uma caixa de doces deliciosos e pensamos: “Que delícia!” Podemos contemplar os doces e examinar cuidadosamente nossos apegos, ver como surgem as reações condicionadas. Tiramos a tampa da caixa, e surgem energias nítidas dentro do nosso corpo, tapamos a caixa, e as energias se vão. É um exercício interessante.
Cada pequeno objeto, cada pedrinha da paisagem, tem uma correspondência interna em nós na forma de energias que percorrem nosso corpo e nervos. A isso chamamos “ventos internos”. Nosso apego não é às coisas, mas aos ventos internos que elas provocam. Os ventos internos são a experiência íntima dos objetos e também dos seres. Essa dependência e apego são a base de duka.
Os problemas ecológicos são exemplos de duka. Não desejamos destruir a natureza. Queremos apenas meios de transporte, adubos, plásticos, papel, refrigeradores…Mas isso gera problemas. Cada uma das ações humanas tem um objetivo, mas cada uma delas tem um resultado também. Isso é resumido por duka.
No sentido geral, cada um dos seres sente duka em seu corpo. Cada um nasce, envelhece, adoece e morre. No sentido budista, quando a morte vem, não é o fim. Dentro do círculo representado pela palavra duka, há uma semente de intenção que perdura – o que morre é uma personagem. É como um filme que acaba no cinema; outras imagens vão surgir na tela após a projeção do filme. Se há um cinema, outro filme sempre entra em cartaz.
Temos um processo infindável de vida, nascimento, decrepitude, morte, vida. Não precisamos acreditar no renascimento. Pode-se ficar em uma morte apenas, mas ainda assim não conseguimos frear a doença de duka.
Todos os aspectos do Budismo são propostos como remédios para essa doença. É por causa dela que surgiu o Budismo. Observando de forma ampla o sentido de duka, percebemos que o Buda estudou a doença detalhadamente e descobriu uma natureza que está além de toda essa complicação.
PADMA SAMTEN é lama budista. Fundou e dirige o Centro de Estudos Budistas Bodisatva, em Viamão, RS e também em Canelinha, SC. O templo do CEBB Mendjila fica na rua Regina B. Clemer, número 2400, no Bairro India. Este Templo foi inaugurado em 02 de novembro de 2015.
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Que muitos seres possam se beneficiar!