Alessandra Destro Pizzigatti
Sua Santidade o Dalai Lama costuma resumir a riquíssima filosofia budista em uma frase: “Faça o bem sempre que possível; se não puder fazer o bem, tente não fazer o mal”.
Uma das especialidades do Budismo é a noção de que o mundo que nos circunda é inseparável de nós mesmos.
Assim, se fazemos o bem para os demais seres e para o ambiente, estamos cuidando de nosso próprio bem. Se causamos mal aos outros e ao ambiente, estamos causando mal a nós mesmos.
Todos estão ligados uns aos outros, todos dependem uns dos outros. O conceito de interdependência budista também sustenta que nós – e tudo o que nos circunda – não temos a solidez que julgamos possuir.
Atribuímos identidades e qualidades a tudo e a todos (inclusive a nós mesmos) a partir de uma visão limitada por um padrão binário de gostar e não gostar, querer e não querer. Esse é um tema profundo, trabalhado de modo muito detalhado nos ensinamentos mais sofisticados.
A palavra para os mundos que surgem inseparáveis das nossas mentes é “mandala”. Mandala não se refere apenas a como um mundo material surge, mas especialmente como surgem a experiência desse mundo, o observador, os limites cognitivos, as energias de ação, as emoções e o corpo.
Cada mandala surge inseparável de um tipo correspondente de inteligência viva e ativa. Essas inteligências são transcendentes, não pessoais, não corruptíveis e livres do tempo.
Incessantemente disponíveis, podem ser reconhecidas e acessadas sem esforço ou luta a qualquer momento. A meta budista é sair das mandalas limitadas e chegar a mandalas de sabedoria, isentas do padrão binário.
Todos os seres aspiram à felicidade e proteção diante do sofrimento. Nossos pais nos ensinam habilidades para nos aproximarmos da felicidade e nos protegermos. Nossos pais, professores e mestres ensinam também a disciplina, e com isso ampliamos nossa capacidade de atingir metas difíceis, atravessar ambientes perturbadores e exigentes e suportar as adversidades momentâneas na busca de realizações maiores.
O Budismo nos ensina a capacidade de reconhecer mundos puros e inteligências puras, de tal modo que, instalados na experiência desses ambientes puros, as ações positivas sejam naturalmente realizadas sem esforço e sem contradição.
Esses mundos puros são as mandalas de sabedoria. O descortinar desses mundos e sua ação em meio ao que pensamos ser a realidade sólida cotidiana é o objetivo deste livro.
Quando nos inserimos em uma mandala de sabedoria, adquirimos condições de realmente fazer o que é melhor para nós, para os outros, para a humanidade e o ambiente.
Somos capazes de viver o amor e a compaixão com alegria e equanimidade, sem nos deixarmos abater pelas dificuldades que aparecem, sem oscilar. O mundo ao nosso redor continua o mesmo, mas nós mudamos nosso olhar, e isso muda tudo. Quanto mais pura e ampla a mandala, maior a nossa liberdade e capacidade de gerar o bem.
Além da inserção pessoal em mandalas de sabedoria, nós, como agentes da cultura de paz, vamos trabalhar para que os outros também possam fazer o mesmo, migrar para mandalas mais amplas.
Vejo a abordagem da mandala como de grande utilidade nesses tempos paradoxais em que grandes aflições coexistem com grandes possibilidades e sonhos encantados de paz e lucidez.
Muitos esforços têm sido feitos em nossas variadas expressões culturais; apresento aqui uma contribuição a todos os seres vinda dos praticantes silenciosos das montanhas elevadas.