No sábado, 14, e domingo, 15, a Aldeia Tekoá Tavaí foi palco de uma intensa troca cultural e espiritual, durante a vivência imersiva na tradição Guarani Mbyá e a gravação do filme “O Despertar do Sol”. Mesmo com a chuva, o evento, contemplado pela Lei Paulo Gustavo do Ministério da Cultura e Prefeitura de Canelinha, foi um sucesso, com participantes engajados, atentos e profundamente conectados às atividades de música, dança tradicional e rodas de conversa com as lideranças indígenas.
Foram dois dias de gravação, com previsão de que as filmagens do filme se estendam por mais alguns dias. “O Despertar do Sol” busca trazer a consciência sobre a importância da preservação da natureza e o respeito aos saberes ancestrais dos povos indígenas. O envolvimento dos participantes não só acrescentou autenticidade ao projeto, mas também criou um ambiente de colaboração entre indígenas e não indígenas, reforçando a mensagem de respeito mútuo e preservação ambiental.
Importância das áreas indígenas protegidas
Em um momento crítico para o Brasil, que enfrenta uma grave crise ambiental com o aumento das queimadas e o desmatamento, eventos como este ganham ainda mais relevância. As áreas indígenas protegidas são sinônimo de florestas em pé, prestando serviços ecossistêmicos essenciais que beneficiam toda a sociedade, como a purificação do ar, regulação do clima e preservação da biodiversidade. A luta dos povos indígenas pela preservação de seus territórios é também uma luta pela sobrevivência do planeta.
A cultura Guarani Mbyá ensina que a preservação da terra e da cultura são inseparáveis. Para eles, a natureza e o espírito estão profundamente conectados, e o filme “O Despertar do Sol” pretende trazer luz para esse modo de vida respeitoso, onde a terra não é apenas um recurso, mas uma entidade viva a ser cuidada e respeitada. A sabedoria ancestral dos Guarani Mbyá, tão fundamental para a sustentabilidade, oferece uma visão alternativa e necessária diante da crise climática atual.
“Quando falamos na natureza, primeiramente temos que respeitar cada elemento. Os ensinamentos são sempre protejer e respeitar. Nós povo Guarani Mbya sempre vamos buscar não poluir, não desmatar, e nós povo Guarani Mbya sabemos que nosso oxigênio é a natureza, por isso sempre vamos respeitar a mãe natureza”, defende Nhamandu Pata (Marcelo Benite) curador cultural e uma das lideranças da aldeia.
Vulnerabilidade e desafios enfrentados pela comunidade
Mesmo com o apoio de políticas públicas, a comunidade da Aldeia Tekoá Tavaí ainda enfrenta insegurança alimentar e dificuldades para garantir direitos básicos. Dependentes da renda gerada pelo artesanato e pelas vivências culturais, as famílias lutam para manter sua subsistência enquanto enfrentam ameaças territoriais como o Marco Temporal. O projeto da Aldeia busca não apenas resgatar e valorizar a cultura Guarani Mbyá, mas também conscientizar a sociedade sobre a importância de garantir os direitos indígenas e preservar seus territórios, como forma de manter viva uma tradição que cuida da terra e da vida.
Para Nhamandu, o projeto é uma ferramenta de transformação, que mostra a importância da nossa conexão com a natureza e convida os juruás (não indígenas) a fazer parte dessa luta.
“Essa é uma oportunidade de mostrar para a sociedade não indígena que estamos presentes todo o tempo. Por que muitos dos não indígenas só lembram no dia 19 de abril para fazer visita na aldeia. Além disso, o filme será um registro para as próximas gerações. Sabemos que nossos ensinamentos são passados para as crianças e jovens na oralidade. E esse projeto vai deixar um filme para as crianças e jovens aprender sobre a nossa cultura”.
A cacica Daysi Montiel Lopes complementou: “O projeto vai mudar os olhares no município de Canelinha. A partir dessa vivência, e também do filme, estamos tendo a oportunidade de mostrar a nossa realidade, e mostrar como vivemos na aldeia. Conseguimos esclarecer muitas dúvidas sobre nós. Por que escutamos muito que nós indígenas em geral não fazemos nada em nossa aldeia. A verdade é que aqui nós trabalhamos de forma coletiva. E o projeto tem sido uma forma de lidar com o preconceito e discriminação que passamos em nossa própria cidade, e também em nosso próprio país”.
Ficha Técnica do Projeto:
Coordenação Geral: Daysi Montiel Lopes (Liderança Kaiowá e Mbyá)
Coordenação de Produção: Cristiane Cubas (Juruá batizada: Takuaí)
Curadoria Cultural: Marcelo Benite (Liderança Mbyá: Nhamandu Pata)
Assistência de Produção: Fabíula da Silva (Juruá)
Concepção: Marcelo Benite
Roteiro: Coletivo (Equipe Tavaí)
Gravação e Edição Audiovisual: Fernando Marcos (Juruá)
Mídias Sociais e Design: Kenneth Pereira Montiel (Mbyá)
Registro Fotográfico: Rodrigo Fernandes (Mbyá)
Assessoria de Comunicação: Carine Bergmann (Juruá)
Consultoria de Acessibilidade: Mimi Aragon (Juruá)
Produção Artística Mbyá: Daysi Montiel Lopes, Joana Benite e Francisca Brite
Artistas Mbyá: Grupo Coral Nhe´~e Ambá
Marcelo Benite (1ª voz masculina, música e coordenação)
Camila Maica Benite Vilalba (dança e voz feminina)
Douglas de Souza (dança e voz masculina)
Eloá Montiel Benite (dança e voz feminina)
Erica Benites Vilhalba (dança e voz feminina)
Estela de Souza (dança e voz feminina)
Mariano de Souza (músico e voz)
Kendredy Pereira Montiel (músico e voz masculina)
Cristina Benite (dança e voz feminina)
Helena Brizola (dança e voz feminina)
Cozinheiras: Joana Benite e Francisca Brite (Mbyá)
Adereços: Francisca Brite (Mbyá)