Cristiéle Borgonovo
Os braços já não têm mais a mesma agilidade na hora da continência. Assim como os sentidos não estão mais tão aguçados como outrora. Ao longo dos 101 anos vividos, o centenário, nascido no bairro Fernandes, em São João Batista, Raulino Machado é o último pracinha batistense vivo. Na terça-feira, 16, em homenagem à história e trajetória de vida, o morador do bairro Cardoso recebeu a visita de representantes do Exército, que lhe entregaram a Medalha da Vitória.
A honraria foi entregue pelo general Trindade, da 14ª Brigada de Infantaria Motorizada de Florianópolis, e contou também com a presença do tenente coronel Fernando Cossa, comandante do 23º Batalhão de Blumenau. “Este momento é de reconhecimento pela atuação do Brasil em defesa da liberdade e da paz mundial, em especial na Segunda Guerra Mundial, na qual Raulino Machado sempre será lembrado pelo ato de bravura”, enfatiza o general Trindade.
A breve solenidade ocorreu na casa do pracinha, com a participação dos filhos e militares. Houve a presença da Bandeira Nacional e um soldado ecoou a música através de um trompete.
Trajetória de vida
A história de vida de Raulino Machado faz parte das memórias de São João Batista. Filho de Joaquim Manoel Machado e Diamantina Ana Teixeira Machado, ambos também nascidos nas terras onde viria a ser emancipada a Capital Catarinense do Calçado. Desde menino, trabalhava com o pai na serralheria da família, localizada em Vargem Pequena, no Fernandes, bairro onde moravam. Aos 18 anos, mudou-se para Itajaí, onde serviu o Exército. Nesse período foi convocado para servir na Segunda Guerra Mundial, que se estendeu de 1939 a 1945. “Ele foi convocado em 1945, aos 23 anos de idade, e pouco tempo antes de embarcar recebeu a informação de que a guerra havia acabado, ou seja, não chegou a atravessar o oceano para as batalhas”, informa a filha Diana Paulina Machado Booz.
Aos 29 anos, Raulino se casou com Maria Duarte da Silva Machado, a Carminha, hoje com 96 anos. Ele tem seis filhos: Maria Helena, Luiz Gonzaga, Edson Ladislau, José Edegar, Acácio Moisés e Diana Paulina. São 15 netos e nove bisnetos.
Ao retornar para São João Batista e casar-se, ao completar 32 anos, abandonou a profissão de serralheiro, mudou-se com a esposa para o Centro e comprou um caminhão. O sustento da família vinha dos fretes de carga de fumo, cana-de-açúcar e mudanças. Também realizava excursões para Iguape, em São Paulo, e outros locais turísticos.
Na década de 70, implantou um posto de combustíveis Shell na entrada do bairro Cardoso. O gosto pelo comércio e a expansão dos negócios fizeram-no mudar de local, para a Rua Getúlio Vargas, onde inaugurou o Posto de Combustíveis Atlantic. Hoje, ao lado da esposa e família, desfruta da convivência e do sossego.
Medalha da Vitória
Criada pelo Decreto nº 5.023, de 23 de março de 2004, a Medalha da Vitória destina-se a agraciar militares das Forças Armadas, civis nacionais, militares e civis estrangeiros, policiais e bombeiros militares, organizações militares e instituições civis nacionais, nacionais ou estrangeiras, que tenham contribuído para a difusão dos feitos dos Ex-Combatentes durante a Segunda Guerra Mundial, participado de conflitos internacionais na defesa dos interesses do País, integrado missões de paz, prestado serviços relevantes ou apoiado o Ministério da Defesa no cumprimento de suas missões constitucionais.