Cristiéle Borgonovo
Rogério Marciollino Tomaz, 58 anos, conhecido como Pato, sempre exerceu durante toda a vida uma única profissão, a de sapateiro. Natural de São João Batista e morador do bairro Carmelo, conta que o primeiro emprego foi aos 16, na Sapataria Cochicho, de propriedade do Tonho, filho do Saudoso Zé Barbeiro. Lá atuou por um ano.
Naquela época a produção de fato era feita de forma manual e artesanal, afinal equipamentos e maquinários eram escassos. “A gente passava cola, batia sola com martelo, olha, era trabalhoso e cansativo, pois exigia força física”, diz.
Após aprender o ofício passou por outras empresas. Ele domina todos os processos da produção calçadista, do corte até colocar na caixa. Passou por algumas empresas no ramo como Zabumba, Camminari e atualmente há cinco anos está na Via Scarpa, na função de montador.
Mas, quem acha que após o expediente na fábrica o trabalho acaba. Em casa ele tem um espaço no qual produz calçados e comercializa para lojas no estado. “Sempre trabalhei no setor e não sei fazer outra coisa a não ser o calçado. É uma profissão digna, mas hoje vejo o quanto está desvalorizada, os salários não são tão atrativos e a cada dia que passa o sapateiro vai perdendo espaço para as outras profissões em ramos diferentes. Tenho orgulho do que faço, foi assim que eu e a minha esposa conquistamos o que temos, criamos nossos filhos, mas fico triste por essa profissão tão digna não ser valorizada como merece”, desabafa Pato.
Outro fato que ele compartilha é a evolução do setor. Há 42 atuando hoje em dia ele relata que a tecnologia com as máquinas, ferramentas e automação deixaram a produção mais ágil. “Só quem viveu a nossa época para saber o que era fazer um sapato do início até o processo final, hoje é tudo muito setorizado e moderno”, relembra.
Pato destaca a importância da persistência e dedicação no ofício de sapateiro. Ele acredita que, mesmo com as mudanças no mercado e a diminuição da valorização da profissão, aqueles que permanecem na área têm a chance de manter viva a tradição de uma arte que sempre fez parte da cultura local. “Temos que nos adaptar às novas tecnologias, mas é fundamental não perder o cuidado e o capricho que o trabalho artesanal exige”, afirma. Ele ressalta que, apesar dos desafios, ainda existem pessoas dispostas a valorizar o calçado.