Marcia Peixe
Logo na entrada do quarto, uma placa decorada com o nome Ravi, indica que ali foi escolhido para receber o tão esperado bebê. Depois de nove anos de tentativas, ele chegou no dia 12 de abril de 2022. Nos braços da mãe, Flavia Guesser de Souza, advogada, 42 anos, e sob a supervisão do pai, Jairo Pereira, servidor público, 44 anos, a alegria é transmitida pelos sorrisos e também pelos olhares.
Casados há 16 anos, o período de espera, exigiu do casal união, persistência e confiança em Deus. “Quando eu tinha 33 anos, decidimos que seria o momento para tentarmos engravidar. Então foram dois anos de tentativas sem sucesso”, recorda Flavia. Até este momento, eles não haviam procurado ajuda médica, pois acreditavam que poderia fazer parte do processo. Porém, com o passar do tempo, a preocupação em relação à idade de Flavia e a dificuldade em gravidar, os motivaram a buscar acompanhamento e investigações.
Então, eles decidiram buscar outros médicos, iniciaram investigações, intensificaram os exames de rotinas. “Nada constava e isso nos gerou ainda mais ansiedade”, explica Flavia. Em meio a tudo isso, Jairo revela que nunca perdeu a esperança, e sempre motivava a esposa a buscarem mais alternativas. “Passamos a ser acompanhados por um obstetra que orientou o uso de medicamentos que estimulam a ovulação. Com isso, ocorreu a primeira gravidez, mas logo nas primeiras semanas, veio o aborto”, relembra Jairo.
Apesar do ocorrido, o casal persistiu e foram mais cinco gestações, todas interrompidas naturalmente pelo organismo de Flavia. “Ainda queríamos muito tentar e com isso decidimos ir em busca de outro especialista que nos recomendou uma inseminação intrauterina”, acrescenta Jairo. Assim, seguiram para a próxima etapa, mas, novamente sem sucesso.
“Foi uma gravidez cheia de medos e angústias pois a geneticista não descartava a possibilidade de um aborto ou até mesmo de o bebê nascer com algum probleminha”
A busca por um diagnóstico
Na busca por uma resposta sobre o que ocorria com as gestações, eles optaram por realizarem uma consulta com outro especialista em infertilidade, “Este médico identificou que ainda não tínhamos realizado um exame chamado cariótipo, e nos solicitou. Então veio o diagnóstico: eu tenho uma translocação genética balanceada entre cromossomos. Havia uma falha genética em dois cromossomos meus que impediam o desenvolvimento do embrião”, revela Jairo. Foi feita investigação mais aprofundada e consulta com uma especialista que estuda genética, que investiga as informações contidas nos genes e que indicam possíveis doenças ou alterações, por exemplo.
Por se tratar de uma alteração rara, e diante do histórico do casal, o médico recomendou outro procedimento, a fertilização in vitro com biópsia dos embriões para seleção daqueles que não possuíssem a translocação genética de Jairo, para depois serem transferidos para o útero da mãe. “De novo, não se desenvolveram. A cada etapa uma dor dupla: a primeira da perda do bebê, e, a segunda, contar para as pessoas o que havia ocorrido e relembrar toda aquela dor. Era muito desgastante”, enfatiza Flavia.
Esta última etapa, ocorreu em setembro de 2019, mesma época, em que a família de Flavia enfrentou precocemente a morte do irmão Fagner, aos 34 anos, vítima de câncer. “Com tudo isso, decidimos que não iríamos mais tocar neste assunto. Além disso, logo depois veio a pandemia”, detalha Jairo. Os últimos nove anos tinham sido de perdas, de dor, mas também de muita coragem o que motivou, Jairo, a conversar com a esposa novamente sobre o assunto. “Em 2021, quando ela completou 41 anos, falei sobre esse desejo de tentarmos uma última vez. Ela aceitou, porém após marcar a data da consulta e antes mesmo de efetivamente realizarmos a consulta, descobrimos a gravidez do Ravi”, conta o esposo.
O primeiro sentimento foi de medo e a busca imediata por um médico que pudesse constatar como estava a saúde do bebê. “No primeiro momento não conseguimos consulta com um obstetra, então conseguimos um encaixe com o médico especialista em infertilidade que nós acompanhávamos. Ele fez o primeiro ultrassom confirmando a gravidez e nos encaminhou no mesmo dia a uma colega que nos atendeu e disse que se não soubesse do nosso histórico, diria que era uma gravidez normal, pois estava tudo bem com o bebê”, recorda Jairo. Depois do primeiro ultrassom, seguiram os protocolos orientados pelo obstetra, mas nada que exigisse maior preocupação.
Então no mês no mês de abril, o tão esperado filho chegou, saudável e hoje está nos braços dos pais. “Foi uma gravidez cheia de medos e angústias pois a geneticista não descartava a possibilidade de um aborto ou até mesmo de o bebê nascer com algum probleminha. Mas a cada exame realizado durante a gestação confirmando estar tudo bem a gente se enchia de esperança e de gratidão. Tem dias que eu ainda não acredito que tenho ele em meus braços, é uma bênção”, finaliza Flávia.
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