Neste Dia do Trabalhador, comemorado em 1º de maio, o jornal Correio Catarinense homenageia a todos os trabalhadores por meio de uma história inspiradora. Da gari de São João Batista.
Ezinete dos Santos, de apenas 36 anos, integra a equipe do Serviço de Infraestrutura, Saneamento e Abastecimento de Água Municipal de São João Batista desde abril, após passar em primeiro lugar no processo seletivo para o cargo de auxiliar geral, na coleta de lixo.
Natural de Salvador, na Bahia, mãe de três filhos, Ícaro, 12 anos, Pedro, dez, e Pietro, três, Ezinete está em São João Batista desde o início de janeiro.
Com uma história de vida marcada pela superação, Ezinete saiu da Bahia para fugir da perseguição do pai dos filhos, e foi em São Paulo que tentou recomeçar. “Vivi por dois anos lá com um rapaz que conheci. Mas, depois de uma briga, ele destruiu tudo de dentro de casa, inclusive minhas roupas”, lembra.
Foi então que ela recorreu a um grande amigo, também da Bahia, que mora na Capital Catarinense do Calçado há sete anos com a família. “Pedi para vir morar aqui com eles para recomeçar. Então em janeiro me mudei somente com a roupa do corpo, junto com meu filho Pietro. Os outros dois ainda não tive condições de trazê-los da Bahia”, conta.
Moradora do bairro Ribanceira do Sul, Ezinete conta que buscou auxílio junto à Secretaria de Assistência Social. “Estava desesperada para trabalhar, contei minha história e disse que se não conseguisse nada teria que voltar para minha cidade. Então me falaram da prova do processo seletivo e já me inscreveram por lá”.
Ezinete afirma que em momento nenhum se importou com o cargo que exerceria, até porque já trabalhou como servente de pedreiro em obras, auxiliar de escritório, babá, cuidadora, embaladora, serviços gerais, feirante e doméstica.
Quando contou para a família, as reações foram de espanto. “Não acreditaram e até comentaram que não me colocariam para trabalhar no caminhão, porque era só homem que fazia isso. Mas eu disse que não, que era para isso mesmo”.
Ao ir até o Sisam, Ezinete foi informada da função que exerceria e foi questionada se havia algum problema. “Eu disse que não tinha problema nenhum não. Porque, na verdade, eu não pensei muito no trabalho, mas no dinheiro. Quando se tem família, tem um propósito, a gente não se importa com o que fazer. Mas hoje eu gosto de verdade do que estou fazendo”, afirma.
Orgulho da profissão
Apesar de nunca ter passado pela cabeça de um dia trabalhar como gari, Ezinete garante que se fosse para fazer tudo de novo, faria. “Estou muito feliz nessa profissão”.
Com uma rotina que inicia às 18h e segue até meia noite, ela passa pelas ruas da cidade, juntamente com a equipe, para recolher o lixo orgânico.
“Senti medo somente no primeiro dia. Na verdade, era a insegurança natural de quem começa um novo emprego. Só que Deus é tão bom comigo que me colocou numa equipe maravilhosa”, diz.
Apesar da profissão de gari ser pouco reconhecida e valorizada, Ezinete conta que tem recebido manifestações de carinho quando passa pelas ruas. “As pessoas batem palma para mim, me dão parabéns, me chamam de guerreira. Fico muito feliz e até sem saber o que dizer”.
Ela ressalta que a profissão é tão digna quanto qualquer outra. Porém, há muito preconceito na sociedade. “Teve uma colega minha que falou ‘Nossa, saiu da Bahia para ser gari aqui’. Mas para mim é um trabalho como qualquer outro. Não sinto vergonha em momento nenhum de vestir essa farda, de ser gari, e tenho orgulho de falar que sou gari”.
Para Ezinete, não importa o que as pessoas falam, pois o maior desejo é conquistar os objetivos de ter a casa própria, os filhos por perto e reconquistar tudo o que foi lhe tirado, como as próprias roupas. “Deus é bom o tempo todo, só basta a gente crer que tudo dá certo”, garante.