Ser mãe, para Juliani Correa de Souza, 38 anos, sempre foi um sonho de toda a vida, uma vocação. Por isso, sempre carregou consigo a certeza de que um dia seria. Casada com Gabriel Feller de Souza, 32, há nove anos, o casal sabia que um dia teriam um filho, mas quando nunca entrou em pauta.
A primeira gestação, há quase cinco anos atrás, foi uma grande surpresa aos papais. Juli, como é mais conhecida, viveu um início tranquilo, mas com 13 semanas, durante uma viagem, sentiu muita dor, cólica, e ao ir para um hospital, teve um aborto espontâneo.
“Foi uma dor muito grande. Sofri muito, muito. Um sentimento de impotência. Mas sempre confiei em Deus e sabia que ele tinha um propósito ao permitir passar por aquele momento tão doloroso”, lembra a mãe.
Juli diz que a perda gerou um buraco muito grande dentro dela. Trabalhava sorrindo, mesmo não estando feliz. “Toda mãe que perde um bebê sabe o tamanho da dor que é. Eu sabia que era má formação, algo da natureza humana, acontece com muito mais frequência que imaginamos, mas foi um processo de luto”.
Apesar de não saber o sexo do bebê, Juli comenta que sua intuição de mãe e seu coração diz que era uma menina.
Depois da perda, os pais viveram um momento em que preferiam não tocar no assunto e não faziam planos para uma nova gestação. “Entregamos nas mãos de Deus e fomos vivendo um dia de cada vez”.
Cerca de dois meses depois, Juli ficou muito mal de estômago e foi parar no hospital. O médico questionou se poderia ser gravidez, mas ela afirmou que não, pois tinha perdido um bebê recentemente.
“Ele fez o exame mesmo assim e perguntou se queríamos esperar pelo resultado. Falamos que não e como o médico é amigo do Gabe, ficou de nos mandar pelo WhatsApp”, conta.
Durante o trajeto de volta para casa, Gabriel recebeu a mensagem do médico: Parabéns Papai. “Foi uma mistura de sentimento tão grande, eu chorava, ria. Tive medo, mas senti alegria. E ali nascia o maior presente da nossa vida”, relembra a mãe.
Misto de sensações
Juli viveu uma segunda gestação de muita gratidão a Deus, mas ao mesmo tempo de muita insegurança, por ser muito recente à perda. Mesmo correndo tudo de forma tranquila e saudável, foi preciso tomar medicação para garantir que a gestação chegaria até o fim.
Antes mesmo de descobrir o sexo, a mãe já sabia que esperava um lindo menino. “Até por isso que acho que a primeira era de uma menina, porque o sentimento era diferente, os gostos, os olhos para o azul”, comenta.
Depois de todo sofrimento da primeira perda, Guilherme, hoje com quatro anos, chegou ao mundo por meio de uma cesariana. “Tenho certeza que essa dor me ajudou a ser uma mãe melhor agora com o Guilherme. Porque sei que cada segundo importa, e o bebê que perdemos foi muito amado naquelas poucas semanas que convivemos”, afirma Juli.
Nova perda
Em outubro de 2020, Juli teve uma nova perda devido a um aborto espontâneo com 11 semanas. “Um dia ainda vou ter outro bebê arco-íris. Mas, agora esperamos em Deus para ver qual a vontade Dele para nossa vida”, diz.
Consagração do amor
Para Juli, a chegada de Guilherme representa a consagração do amor dela e do marido. “É o nosso frutinho que trouxe alegria e vida aos nossos dias. Ser mãe é o melhor presente de Deus na vida de uma mulher. Ser mãe do Guilherme é uma benção. Quem conhece ele, sabe o quanto ele é alegre. Ele transmite tudo que senti ao pegar ele no colo. A felicidade de ser mãe”, emociona-se.
Ela ressalta que, ser mãe é sem dúvida um amor incondicional, vem da alma. Preenche a vida e o coração. “Agradeço a Deus todos os dias por ter este menino lindo em nossas vidas. Um amor que ultrapassa todos os limites. E ter perdido um bebê antes dele me fez valorizar cada minuto ao lado dele. Só temos uma vida e precisamos aproveitar cada minuto dela”.
A mãe avalia que ser o melhor profissional ou realizar coisas é muito importante, mas ser mãe, com certeza, traz o melhor sentimento de que se é capaz de cuidar de outra vida. “Ganhei muito mais do que merecia ao me tornar mãe do Guilherme. É sem explicação. Eu amo ser mãe”, afirma.
Conselho de mãe
Juli conta que sofreu por muito tempo pela perda da primeira gestação e carregou uma culpa inconsciente. Por isso, ela aconselha às outras mamães que vivenciaram a mesma dor a confiarem em Deus.
“Deus sabe todas as coisas. Agradeça a Deus pelo tempo que ele ficou dentro do seu ventre e você pode amá-lo. Um dia, lá no céu, vamos reencontrar nossos filhos, e será a contemplação de todo este amor de ser mãe. Um filho vivo ou no céu, vamos amá-los igual, mesmo sem ter conhecido fisicamente”.