Cristiéle Borgonovo
Há mais de 20 anos, Maritane Braun Zunino, de 40 anos, atua no setor calçadista. Natural de Leoberto Leal, foi em São João Batista que aprendeu a profissão de sapateira e se desafiou a um novo trabalho. Ela conta que saiu da cidade natal em 2000, junto com os pais, que trabalhavam na agricultura, em busca de uma melhor qualidade de vida.
Na lavoura, eles utilizavam pesticidas e outros venenos, mas o uso desses produtos químicos afetava a saúde da família. Uma alternativa era abandonar a vida no campo. O primeiro emprego da mãe, em São João Batista, foi em um ateliê da Caçula, no bairro Fernandes. Após o expediente, ela trazia cabedais para refilar com a tesoura em casa. Maritane, sempre atenta e cuidadosa, ajudava. “Foi assim que comecei, aos poucos, a entender o ofício”, lembra
Moradora do bairro Rio do Braço, em abril de 2002, ela ingressou na RB Componentes para Calçados, onde trabalhou até novembro de 2003. Lá, teve a primeira experiência em uma empresa voltada para a produção de solas e saltos de madeira, que era de propriedade de Saul Reitz. Já em 2004, iniciou a jornada na Via Scarpa, onde trabalha até hoje. “Já são mais de 20 anos nesta empresa, onde tenho muito orgulho”, afirma.
A transição da vida no campo para a fábrica de calçados não foi fácil. Maritane enfrentou dificuldades comuns a quem inicia uma nova carreira sem conhecimento prévio. “Cheguei sem ideia do que era um cabedal, forro ou até mesmo a numeração de calçados. O medo de errar era constante, pois sempre me cobrei muito”, relata. No entanto, com paciência e a ajuda dos colegas, aprendeu o ofício. Além disso, fez um curso técnico em calçados pelo Senai, que foi interrompido pela gravidez, mas finalizado anos depois.
Para Maritane, os desafios enfrentados pelos sapateiros hoje em dia estão relacionados à falta de especialização. “Anos atrás, havia cursos para tudo: costura, corte, virado, entre outros. Hoje, há uma carência de capacitação no mercado”, explica. Ela acredita que a pandemia e o isolamento contribuíram para a falta de interesse de muitos em buscar qualificação, o que impacta diretamente o setor.
Atualmente, ocupa a função de supervisora de pré-preparação na Via Scarpa e também é formada como técnica em segurança do trabalho. “Sou brigadista e sempre busco mais conhecimentos. Afinal, aprender nunca é demais”, afirma.
Mesmo com os desafios e as dificuldades enfrentadas ao longo dos anos, Maritane não esconde o orgulho pela profissão. “Ser sapateira é gratificante. Ver o resultado final de um calçado perfeito e recompensador”, conclui.