Cristiéle Borgonovo
Se tem ingredientes que não faltam na casa da baiana Odines Bezerra dos Santos, a Nina, 44 anos são: azeite de dendê, camarão seco, leite de coco, feijão fradinho, amendoim, feijão preto, farinha de mandioca e muito mais. Tudo isso vindo diretamente do estado onde nasceu, a Bahia, no Nordeste. Nessa semana onde há pelo segundo ano o feriado nacional do Dia da Consciência Negra, o jornal Correio Catarinense destaca a história de Nina, que mantem viva as origens e orgulho das tradições africanas na culinária. Há 15 anos ela e a família moram em São João Batista.
Natural da cidade de Cravolândia, há pouco mais de 300 km da capital da Bahia, Salvador, mudou-se para Santa Inês, no Vale do Jiquiriçá, no sudoeste baiano, onde viveu até mudar-se para São João Batista.
Ao lado do marido Luiz Carlos José de Souza e da filha Maria Luiza Bezerra de Souza mudaram-se para a Capital Catarinense do Calçado. Ela conta que o principal motivo foi por melhores condições de vida e oportunidade de emprego. “Meu marido saiu da Bahia e foi para São Paulo, lá ficou por um período, mas em grandes capitais tudo é muito difícil, foi então que um amigo dele disse que em Santa Catarina, aqui em São João Batista tinha oportunidades, a cidade era tranquila e iríamos gostar”, recorda.
Ele que é marceneiro, sempre trabalhou com a produção de móveis de madeira. Aqui aprendeu a trabalhar com MDF em marcenarias. Agora montou o próprio negócio, a Marcenaria Souza, no bairro Cardoso. “Quando viemos para cá, no outro dia já consegui trabalho, onde por nove anos trabalhei nas fábricas de calçados da cidade”, conta. Hoje, ajuda o marido na marcenaria e vende produtos que traz direto da Bahia e alimentos típicos. Os dois pratos que são o carro chefe de Nina são o acarajé e a feijoada baiana, mas também vende abará embrulhado na folha de bananeira e vatapá.
O acarajé é vendido todas as sextas-feiras a tarde. Já a feijoada sai nos sábados. Devido a cidade ter um grande número de conterrâneos baianos, as vendas são garantidas. “É uma forma de mantermos a nossa tradição, de trazer o gostinho da nossa terra para cá, pois, por mais que amamos morar aqui, sentimos falta das nossas origens e a culinária nos remete a isso, a infância e a boas lembranças”, diz.
O acarajé veio para o Brasil pelos africanos escravizados. A palavra vem do idioma iorubá, com akará (bola de fogo) e jé (comer), significando “comer bola de fogo”. Na África e no Brasil, o acarajé é uma comida sagrada e se tornou um símbolo da cultura afro-brasileira e um Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.
Nina aprendeu a fazer o acarajé na Bahia, quando foi passear em Salvador. Por duas semanas, todos os dias ia na barraca de uma vendedora, na qual, para ela e os familiares faz um dos melhores acarajés da região. “Mesmo assim quando eu cheguei em casa e tentei fazer ainda não ficava tão bom. Tive que fazer chamada de vídeo com ela, até acertar no ponto exato e, hoje em dia, fica muito semelhante ao dela”, revela.
O acarajé pode ser adquirido todas as sextas-feiras, na Rua Marcelino Francisco Vargas, na Marcenaria Souza. Encomendas podem ser feitas pelo whatsapp 48 98818-3879, ela também utiliza as redes sociais, o Instagram @12nina_santos123 e o facebook Odines Bezerra dos Santos para divulgação com fotos e aceita encomendas por lá. Já nos sábados tem a venda da feijoada baiana.
Quem tem interesse em experimentar as iguarias, em São João Batista e região, podem adquirir no bairro Cardoso, além dos produtos baianos como farinha, leite de coco, azeite de dendê, entre outros.
Sobre a data
No dia 20 de novembro é celebrado o Dia da Consciência Negra. A data marca a morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares, assassinado em 1695 por sua luta racial contra a escravidão. Foi só depois da Lei n° 14.759, sancionada em dezembro de 2023, que ela virou um feriado nacional, reconhecido em todo o país.
Curiosidades gastronômicas
Alguns alimentos trazidos da África para o Brasil, foram o coco, quiabo, azeite-de-dendê, jiló, inhame, tamarindo, entre muitos outros itens trazidos pelos mercadores de escravos.
Vatapá é um creme feito com pão amanhecido molhado (ou farinha de trigo ou farinha de mandioca) e muito temperado com pimenta, coentro, gengibre, cravo, cebola, azeite de dendê, entre outros condimentos. Tem a consistência semelhante à de um bobó e pode ser servido como acompanhamento de peixes e/ou de frutos do mar.
Abará Assim como o acarajé, o abará é um bolinho feito com massa de feijão fradinho, diversos temperos e até camarões inteiros ou moídos misturados à massa. E, embora menos famoso, também se tornou um prato típico da culinária baiana.
A feijoada divide o estrelato com o acarajé. A feijoada é também uma comida africana que ficou famosa praticamente por todo o Brasil. No entanto, a origem do prato é um pouco controversa. Há uma versão muito conhecida que diz que a feijoada surgiu nas senzalas. As pessoas escravizadas aproveitavam os pedaços de porco que os senhores jogavam fora, como pés, orelhas e rabo, e misturavam no feijão preto.
Palavras de origem africana
Axé, cafuné, moleque, fubá, muvuca, caçula, quitanda, banzo, dengo, xingar, banguela, samba, marimbondo, quilombo, kizomba, bobó, zumbi, acarajé, vatapá, moqueca, Candomblé, ogã, Orixá, xinxim, xirê, banzé, batuque e jiló.



