Cristiéle Borgonovo
O casal Gerônimo João Melim, 81 anos, e Maria Tereza Melim, 79, há cerca de 15 anos começaram a montar no jardim de casa, um belíssimo presépio. O principal motivo era trazer alegria aos netos e também ensinar o verdadeiro sentido do Natal, que é o nascimento do Menino Jesus. Mesmo o tempo passando e eles deixando de ser criança, a tradição se manteve. Hoje é a bisneta do casal que contempla a beleza das peças montada com todo carinho e amor.
Os moradores do Canto dos Melim, no bairro Ribanceira do Sul, em São João Batista, já são conhecidos por decorarem com luz e a montagem do presépio. Do lado de fora da casa construíram um espaço com telhado e cerca. Dentro, uma gruta que passa água. O barulho dos pássaros e da brisa batendo na vasta vegetação criam um ambiente aconchegante e de uma energia sem igual. À noite, o local fica ainda mais bonito. Iluminado com pisca-pisca coloridos, o espaço fica ainda mais encantador. Na entrada do cercado, os Papais Noéis pendurados em balanço nas árvores indicam que o bom velhinho também faz parte da tradição.
Gerônimo conta que as peças do presépio foram um presente do genro. “Um dia eu falei que gostaria de montar um presépio para as crianças, daí meu genro disse que iria comprar e me dar de presente. E ele trouxe mesmo, tenho as peças desde então”, conta.
Dos tempos de crianças, o casal de aposentados recorda que, na época, na casa dos pais, o Natal era sempre uma data muito esperada. Eles cortavam pinheiros naturais e enfeitavam com o que tinham em casa. Para o cavalinho do Papai Noel, que todos os anos trazia um presente, por mais singelo que fosse, eles cortavam capim e colocavam dentro de um pratinho. Para as festas, a família matava um porco ou um boi para celebrar o nascimento de Jesus.
Dona Tereza lembra que no Natal, o tio, o saudoso Padre José Edgard de Oliveira, hoje conhecido na cidade batistense por ser um dos membros fundadores do Grupo de Escoteiros, vinha de Florianópolis e contava histórias de Natal. “Ele trazia um bombom de chocolates com embrulho dourado que não existia aqui. Levava nós todos para dentro dos matos e fazia brincadeiras, ensinava sobre Jesus, aquilo para nós era um máximo”, recorda.
Paixão por serenatas natalinas
Além da paixão pela família e pelo presépio, Gerônimo mostra com carinho os vídeos e fotos das apresentações que faz junto ao grupo Violeiros Batistenses. Ele relembra que desde menino gosta do instrumento musical. Foi sozinho que aprendeu as primeiras notas musicais e nunca mais parou.
Quando jovem saia em grupo e faziam serenatas natalinas, cantavam Terno de Reis, uma tradição linda da região. Nesse mês de dezembro, a agenda está sempre cheia. São apresentações na casa de pessoas idosas que não podem mais se deslocar, no grupo da terceira idade, na Casa Care, no bairro Fernandes, e também em Florianópolis, na casa do ex-deputado, advogado e empresário Willian Duarte da Silva. “Eu adoro tocar violão, quando chega essa época a gente não para em casa, vamos nas apresentações, conversamos e o melhor, fizemos o que a gente gosta”, diz.
A tradição mantida por Gerônimo e Maria Tereza emociona não apenas a família, mas também a comunidade. Durante o mês de dezembro, vizinhos e visitantes passam pelo Canto dos Melim para admirar o presépio iluminado e a decoração caprichada. “Tem gente que vem aqui só para conhecer, a noite ouvimos o barulho dos carros virando a volta e isso nos enche de alegria e fé”, diz Maria Tereza. Para o casal, ver o presépio pronto a cada ano é motivo de renovação espiritual.
O casal acredita que, em tempos de correria e modernidade, manter vivas as tradições natalinas é um presente valioso para as futuras gerações. “O Natal não é só presente, é tempo de união, de fé e gratidão”, reflete Gerônimo. Enquanto a bisneta contempla a presépio com brilho nos olhos, a certeza de que a mensagem natalina será preservada renova o espírito da família. Para eles, mais importante que as luzes e enfeites, é a alegria de saber que a simplicidade e o amor, transmitidos através de pequenas tradições, nunca saem de moda.