No sábado, 30, o ginásio da Escola Alice da Silva Gomes, em São João Batista, foi palco de um momento ímpar para as crianças e as famílias do Pré da Creche Chiquinha, da professora Jocasta Maçaneiro e monitora Letícia Saturnino de Souza. Aproximadamente 120 pessoas entre crianças e familiares participaram do piquenique literário e da amostra das vivências desenvolvidas pelos Pré I e II.
A Maleta Viajante começou com o objetivo de fomentar o gosto pela leitura na primeira infância. Toda sexta-feira, era feito um sorteio, e a criança sorteada levava para casa a maleta viajante contendo dois livros de histórias. Esse momento era uma oportunidade importante para que a criança pudesse ler com a família.
As famílias registravam a experiência em um diário de bordo, compartilhando suas experiências sobre a leitura; as crianças também registravam, por meio do desenho, a história que mais gostou. Posteriormente, a culminância final do projeto era o piquenique literário, quando todos pudessem partilhar as suas histórias vividas durante essa jornada.
O projeto acabou tomando um outro rumo, pois, aproximadamente 45 dias em andamento, quando uma das histórias compartilhadas, trata-se de “O Balde da Chupeta ” da autora Bia Heltz. Após ouvirem a história, uma das crianças olhou para a professora Jocasta e, com alegria perguntou se poderia jogar sua chupeta no balde da chupeta para ver se ganhava um presente.
Essa pergunta chamou a atenção e a professora logo respondeu que sim e que conversaria com a mamãe no final da tarde para que a criança trouxesse a chupeta no próximo dia.
A partir desse momento, as partilhas de histórias nunca mais foram as mesmas. A leitura começou a fazer sentido para as crianças porque elas estavam em um ambiente familiarizado com a narrativa. Quando a criança vivencia a leitura, ela compreende melhor o sentido da história e começa a relacioná-la com o mundo real.
Ponto de Partida
Esse foi o ponto de partida para que o projeto tomasse um novo rumo, sempre ouvindo e planejando com as crianças, a partir de suas curiosidades e interesses. Ao longo do projeto, foram compartilhadas cinquenta histórias, das quais dezesseis tocaram profundamente as crianças e resultaram em vivências significativas ao longo do ano.
O impacto do projeto foi notável. Karina Oliveira Cunha, mãe da Luisa, pediu que a professora indicasse sites confiáveis para assinatura de livros após ver sua filha pedindo constantemente por histórias desde o dia que levou a maleta viajante para casa. Isso é fruto de uma sementinha plantada em sala de aula.
Além disso, o projeto idealizado pela professora Jocasta e apoiado pela monitora Leticia, foi estendido à comunidade escolar. A cada quinze dias, na frente da creche, as crianças distribuíam livrinhos, dando ainda mais vida ao projeto. Ana Paula Motta, mãe da aluna Isabela, compartilhou com a idealizadora: “parabéns professora Jocasta pelo seu projeto. Eu tentei oferecer livros à minha filha várias vezes, mas ela nunca demonstrou interesse. Desde que saiu do pré com a maleta viajante, não largou mais os livros! Ela pede todos os dias para lermos juntos.”
Essas ações mostram como incentivar a leitura desde cedo pode fazer toda a diferença na vida das crianças e das famílias.
Reflexão
Jocasta lembra que, em uma das capacitações com o professor Paulo Cesar, ele fez a seguinte reflexão sobre planejamento: “Você está planejando para a criança ou com a criança?” Parece uma pergunta simples, mas faz toda a diferença no trabalho.
Jocasta também participa do GPLP (Grupo de Professores de Linguagens) que se reúne mensalmente. Nele, a tônica são os projetos de letramento. Um projeto de letramento se constitui como “um conjunto de atividades que se origina de um interesse real na vida dos alunos e cuja realização envolve o uso da escrita, isto é, a leitura de textos que, de fato, circulam na sociedade e a produção de textos que serão realmente lidos, em um trabalho coletivo de alunos e professor, cada um segundo sua capacidade” (Kleiman, 2000, p.238). No caso da “Maleta viajante”, foi isso que aconteceu: os textos partiram do interesse real. Outro ponto a ser destacado e está relacionado ao GPLP são os estudos sobre mediação literária iniciados em 2023.
Projetos de letramento e mediação literária se fazem sentir na prática planejada pela professora e sua monitora uma vez que os alunos são os protagonistas, são seres de cultura e sujeitos de conhecimento. Das características dos projetos de letramento, destacam-se, na prática social de leitura e escrita da “Maleta viajante”, a aprendizagem situada, a desterritorialização dos lugares de aprendizagem e a formação de uma comunidade de aprendizagem.
E foi exatamente isso que guiou o projeto Maleta Viajante. As vivências foram planejadas com as crianças, partindo da sua curiosidade e dos seus desejos. Com certeza, esse processo de ensino e aprendizagem se tornou muito mais prazeroso tanto para as crianças quanto para a mediadora da aprendizagem. Portanto, a professora Jocasta finaliza o seu projeto com uma frase do professor e psiquiatra Augusto Cury, ” Pais e professores, é preciso educar com mais cores e sabores.”