Em 16 de julho, a Câmara Municipal de Brusque realizará o I Fórum Municipal em alusão ao Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra e ao Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha. A programação do evento – a ser divulgada oportunamente no site e nas redes sociais do Poder Legislativo – terá como foco a presença das mulheres negras nos espaços sociais e de tomada de decisões. A iniciativa foi proposta pela vereadora Marlina Oliveira Schiessl (PT) por meio do Requerimento nº 82/2021, aprovado com dez votos favoráveis na sessão ordinária desta terça-feira, 29 de junho.
“Essa é uma discussão que se implementa no mês de julho em toda a América Latina, e em especial no nosso país, para demarcar, trazer em diálogo as questões que versam a respeito da diversidade, da inclusão e das desigualdades que afetam especialmente as mulheres negras. Trazer essa discussão para o âmbito de Brusque é de suma importância e demonstra o quanto nossa cidade está aberta a pensar e a discutir a condição das mulheres negras”, defendeu Marlina na tribuna antes de pedir aos demais vereadores voto favorável à proposição.
No requerimento, a vereadora registra que a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o dia 25 de julho como o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha e que o Brasil recepcionou a data comemorativa mediante a sanção da Lei Federal nº 12.987/2014, instituindo o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
O texto menciona a luta de Tereza de Benguela (Leia abaixo “Quem foi Tereza de Benguela) contra a escravidão no Brasil, ressaltando que – antes de apenas rememorar a história dessa importante figura – a data “é uma oportunidade dos poderes públicos e da sociedade voltarem-se contra os ranços desta época, que ainda persistem na forma do racismo, de violência e de desigualdade que atingem massivamente a população negra, especialmente as mulheres, incluídas as transexuais”.
O fórum será organizado no formato de sessão especial, no plenário da casa legislativa, e de modo a respeitar todos os protocolos de prevenção à Covid-19. Conforme sugerido por Marlina, as debatedoras convidadas serão lideranças negras e mulheres dos cenários nacional e estadual da luta antirracista.
Quem foi Tereza de Benguela
Fonte: Wikimedia Commons
A “Rainha Tereza” – como era chamada em sua época – é reconhecida atualmente como um ícone da resistência negra no Brasil Colonial. Ela viveu no Século 18, no Vale do Guaporé, no Mato Grosso. Depois que seu companheiro, José Piolho, foi morto por soldados, Tereza passou a liderar o Quilombo do Piolho, também chamado de Quilombo de Quariterê. O núcleo existiu de 1730 a 1795 naquela região, fronteiriça com a Bolívia, e abrigava mais de 100 pessoas fugidas da escravidão.
Pouco reverenciada pela história oficial, Tereza teria unido aquela comunidade – formada majoritariamente por negros e indígenas – em torno da defesa do território onde viviam. Conforme alguns registros, ela teria comandado a estrutura política, econômica e administrativa do local, onde criou uma espécie de parlamento e articulou um aparato de defesa que incluía armas de fogo trocadas com homens brancos ou roubadas de vilas próximas.
Ela resistiu por mais de 20 anos ao regime escravocrata, até 1770, quando o quilombo foi destruído pelas forças governamentais da capitania. Uma das versões sobre a morte de Tereza diz que ela teria tido a cabeça arrancada e exposta no centro do quilombo. Outra afirma que ela teria se suicidado depois de ser capturada por bandeirantes.
Devido à precariedade de fontes, a origem da “Rainha Tereza” é desconhecida, embora o sobrenome Benguela possa remeter à uma colônia portuguesa em Angola, no continente africano.
Em 1994, a escola de samba Unidos do Viradouro lhe rendeu uma homenagem, levando à avenida o enredo “Tereza de Benguela – Uma Rainha Negra no Pantanal”.