Por Maria Beatriz Dalsasso Côrte
Parafraseando São Francisco de Assis: “Nossa irmã morte”, nada sabemos do que virá depois da morte. O importante é a vida que buscamos.
A vida que lutamos, os sonhos que sonhamos, dores que sofremos, alegrias que curtimos, neste mundo oscilante, conflitante, incessante, onde até mesmo uma pandemia nunca antes na história, abre o caos nesses poderes de compra, nas nações mais supremas em dominar o mundo. Insensíveis a uma humanidade que merece dignidade, saúde, e mais vida, porque a vida é breve a todos nós, mortais.
Vejo muitos mortos vivos, sem o brilho do sorriso, a ternura da voz, os abraços entre os corpos, como gelados robôs na sequência insana de gente que se repete em contas absurdas de lucros desmedidos. Em absurdos estragos nunca vistos, onde não sabemos o que nos destrói mais: o coronavírus apocalíptico, polêmico ou certos gestores públicos, que nos assaltam no pânico e nas nossas rendas.
E assim, nossa consciência teológica nos convida a expressar nossa saudade, carinho, respeito, por todos os conhecidos, parentes e amigos que já partiram desta vida. E, como homenagem final, os depositamos em um jazigo de um território coletivo, denominado cemitério.
Em nossa cidade, os nossos jazigos, como cartão postal, destaca-se no popular “Morro do Luca”, saudoso senhor Luiz Viterbo de Sant´ana, já esgotado, sem espaço físico, pedindo há alguns anos um novo cemitério para os mortos que virão.
Alguns cemitérios modernos romperam com a imagem tradicional das necrópoles, com jazigos e monumentos de mármores, substituindo por parques com gramas e árvores ornamentais, economizando espaços, custos e todos uniformemente, com placas metálicas, epitáfios sinalizando estes nossos últimos domicílios.
E por que não pensarmos em um novo cemitério? Onde os túmulos seriam todos iguais, sem ostentar o jazigo pobre do jazigo rico, com uma receita mínima de manutenção,dentro de um cenário agradável aos olhos.
Enquanto vivos e conscientes de nossa morte, vamos nos determinar e nos organizar para um jardim, onde a paz e reflexão, nos convida a viver mais, a nos amar mais, na tolerância de que a morte é nossa irmã.
Na condição de mortais, muitos de nós, na maioria das vezes, somos selvagens, estúpidos e insuportáveis. Imaginemo-nos imortais!
O horror nunca visto em todas as civilizações. Até os egípcios, na história antiga, com suas tumbas, queriam preservar seus corpos através da mumificação para vencer a morte.
E assim, como falou Jesusnos evangelhos: “Deixai os mortos enterrar seus mortos”.Precisamos acordar de nossas indiferenças, descrenças, demências e viver cada dia como se fosse o último, certos que daremos o melhor que temos: dedicação à vida, e amor a todos.
Não nos preocupemos com o pós-morte. Tudo em seu tempo.Agora, precisamos respirar a vida.