Maria Beatriz Dalsasso Côrte
Na qualidade de seres racionais, nem sempre fazemos uso desta preciosidade. É o barraco inesperado, balas perdidas, sistemas caóticos perdendo a ótica do bom senso.
Pânicos coletivos, causadores de tantas insônias nos roubam a real capacidade de confiar nas fidelidades das mais simples parcerias que nossas histórias nos apresentam, nos reduzindo a relações mais íntimas, onde as conexões em redes sociais mascaram um vazio insaciável.
Pais ausentes diante de filhos adolescentes é uma acelerada estatística a se desenvolver, infelizmente. Não somos apenas somente contatos virtuais.
Antes de tudo somos uma realidade complexa, inesgotável, procurando estabelecer uma rotina equilibrada, nos compromissos que a consciência nos cobra e na maioria das vezes corremos destes apelos. Seria medo?
Medo de sermos aquilo que somos: carentes, preconceituosos, ambiciosos aos extremos, nos sentindo ameaçados?
Muitas vezes, somos nós próprios nossas maiores ameaças. E procuramos nos outros as culpas que não sabemos superar. E quando não há superação, há ausência de perdão. Refiro-me ao auto perdão.
Esquecemos de filtrar nossas rotinas. Elas vão se estabelecendo em escalas imperceptíveis, fragmentando nossas sensibilidades, aumentando os pesos de nossas agendas. Falta tempo. Tempo de se olhar interiormente. Tempo de olhar o outro que divide conosco seus propósitos. Próximos, e ao mesmo tempo, distantes. Presentes, aparentemente. Onde está a coragem de buscar o novo e essencial, antes que o trivial nos derrube.
Em décadas passadas, onde a religiosidade circulava em plena aceitação popular em buscar no confessionário de um padre a forma de se aconselhar dos conflitos mais diversos, segundo as normas da Igreja Católica, satisfazia parcialmente nossas crises existenciais.
Hoje, estes hábitos quase não se repetem, e assim, os valores se transformam, ou se perdem. Vamos buscar num divã de um terapeuta, num ônus para classes privilegiadas, a forma de encontrar aquilo que recusamos enxergar, dando-se ao luxo de exercitar terapia. Uma moda para altas classes sociais. E o encontro, que tanto procuramos, mora ao lado. Basta olhar este cenário, com filtros conscientes de descobrir. Descobrir a profundidade de nosso ser.