Malcon Gustavo Tonini – Mestre em História
Ao longo do século XIX, mais especificamente, depois que os portos brasileiros foram franqueados à navegação e ao comércio exterior, viajantes estrangeiros em excursões científicas estiveram no Brasil, e muitos desses deixaram registros que resguardam memórias e contam a história das províncias e vilas do Império brasileiro. Robert Christian Avé Lallemant esteve explorando a região às margens do Rio Tijucas-Grande. O viajante alemão foi um dos estrangeiros que visitaram a então freguesia de São João Batista durante a sua consolidação. Robert esteve com o Capitão João de Amorim Pereira em 1858 às margens do “rio das grandes lamas”.
No caminho entre a foz do Rio Tijucas e as terras ocupadas pelo Capitão, em território que hoje pertenceria a Canelinha, teria encontrado o luxemburguês Pedro Steil, que trabalhara para Amorim quando de sua chegada com a recém-esposa Umbelina Maria Coelho Gomes ao interior do Vale do Rio Tijucas. Depois de pousar junto à família Steil, Robert teria alcançado no dia posterior uma “bonita propriedade com aprazível casa branca”, com uma série de edifícios rurais ao seu redor, a vila de São João Batista.
Em 1858, o Capitão Amorim, que já havia chegado aos 74 anos ao lado de sua segunda esposa Ana Carolina Varela, era o administrador da freguesia e inspetor da Colônia Imperial D. Afonso (até 1846, Colônia Nova Itália), um homem já idoso, mas “de decisiva importância para toda a região”. Instalado na casa do Capitão, o alemão visitou a freguesia, conheceu empreendimentos sardos, excursionando por semanas, e depois resolveu seguir rio abaixo.
Para o retorno até o litoral, o “jovial velho Amorim” lhe mandou vir uma rústica embarcação, que fora acompanhada de um personagem anônimo, excluído da historiografia oficial, um negro que servia ao Capitão, um caronte (barqueiro). Esse homem conduziu o viajante em segurança até o Passo das Tijucas (o município de São Sebastião de Tijucas é constituído no ano seguinte, 1859). Transportou Avé Lallemant em uma pequena canoa entre altos barrancos e muitos troncos de árvores transportados no leito do Rio. Foram quatro horas de viagem até a vila de negociantes e pescadores.
Sobre o viajante alemão e os homens brancos dessa história, muitos assuntos ainda haverei de tratar em outras oportunidades. Sobre o caronte negro, infelizmente não tenho outras fontes para analisar.
Em documentos produzidos no passado é evidente que há a perspectiva do colonizador nas narrativas, onde os negros historicamente são colocados como inferiores e vistos como menos importantes na construção histórica. Algo a lastimar.