Dr. Wilian Duarte da Silva
Um dos momentos marcantes, épicos da cidade batistense, foi a solenidade de instalação do município de São João Batista, em 19 de julho de 1958. Permanecerá para sempre nos anais de nossa história. Esse feito glorioso, simbolizou a bravura do nosso povo, no desejo ardente por liberdade. Na conquista da sua independência política, econômica e social. Orgulho dos descendentes, de nacionalidades diferentes, de primeiros colonizadores, os chamados batistenses de sopé, da cepa e que estão por toda parte. Contentes, alegres por conquistar os direitos de gerir os destinos de seu município.
Naquele ambiente festivo, de grandes emoções, tomou posse como primeiro prefeito da cidade, Gentil Silva. Presentes, Dr. Manoel Carmona Galego, juiz se Direito da comarca de Tijucas, que presidiu a cessão solene de instalação, dando-lhe posse no cargo. Além do comparecimento de autoridades estaduais e municipais. E, concorrida por multidão de pessoas. Festa inconfundível e de grande repercussão. Lembrando, ainda, foi o primeiro Presidente, do primeiro Diretório Municipal de São João Batista, da União Democrática Nacional (UDN), devidamente constituído, fundado em 28 de julho de 1958.
Definir a sua personalidade depois de sessenta e três anos, continua fácil, principalmente para quem conheceu e viveu com ele, bom tempo de vida. Homem simples, de olhar fulgente, compassivo, sério, correto, de poucas palavras, honesto e comprometido com as causas públicas. Amigo, dos amigos. De primeira hora. Governou o município até o dia 31 de janeiro de 1959.
Não existia casa de Intendência Distrital, para que pudesse abrigar a nova prefeitura. Deu início, a administração municipal, sem prédio, sem mesa, sem cadeira, sem papéis e sem caneta. Enfim, do nada começou. Mas, nunca reclamou
Foi a procura e busca do acervo e bens que integravam o patrimônio do novo município, que se encontravam na velha prefeitura de origem, Tijucas, sem os quais não poderia governar. Com extrema dificuldade, começou a administração acompanhado do talentoso amigo Ari Reinert dos Santos, na função de Secretário Geral.
Vida nova para um município novo. Tudo foi criado, inovado e ajeitado. Desde o aluguel da casa, móveis e utensílios, até simples carimbo de identificação da prefeitura.
O seu espírito público predominava no exercício do cargo. Por vezes, cansado de estafante tarefa, do dia a dia, adentrava à noite, para acelerar os trabalhos, para o dia seguinte.
Verdadeiramente a função e execução para quem cria, organiza e ordena é difícil. É tarefa para pessoas especiais. Para os abnegados da vida, para os iluminados do espaço, que dão de si, de sua personalidade, vontade, disposição, competência, persistência, dedicação em fazer o melhor e corretamente. Tudo por fazer. Prefeitura sem dinheiro, para atender as necessidades prementes. Superou as adversidades. Apesar de pouco tempo no comando municipal, imprimiu sua marca de administrador. E, sempre disposto a atender as pessoas, sem horas e limites.
Não se quedava em tomar medidas corretas, a bem da municipalidade. Prefeito moderador. Do nada, montou a prefeitura para posteridade. Não fez milagres, mas implantou um modelo que foi seguido.
Não existia o Poder Legislativo Municipal. A prefeitura, por força de lei, cumpria a legislação pertinente, do município de origem. Era admirado pela população, por sua forma simples e transparente. Diligente no cumprimento de deveres e obrigações. Entregou a prefeitura para seu sucessor, Henrique Mazera Filho, sem dívida e com órgãos administrativos em funcionamentos.
Deixou o cargo aplaudido, pelo dever cumprido. Exemplo digno de prefeito trabalhador e honesto. Atendia a população, sem fazer distinção entre pobre, rico ou necessitado.
Na vida, vencem os fortes, os guerreiros, os que peleiam, os que lutam pelo bem comum. O novo prefeito, foi um desses timoneiros aguerridos. Em pouco tempo, montou a casa, implantou os trabalhos úteis e necessários, dentro das possibilidades.
Gentil Silva, carregava no currículo, experiência de vida pública. Concorreu como candidato a vereador, pela UDN, nas eleições municipais de 03/10/1954, no município de Tijucas, representando o nosso Distrito. Era um apaixonado pela cidade. Industrial, no ramo de torrefação e moagem de café (Café Zoávia), até hoje comandado por familiares. Era também possuidor, de propriedades agrícolas.
Foi um administrador de bem, de conduta ilibada, na condução dos negócios municipais. Tratava os munícipes, sem distinção. Jamais, se ouviu falar de sua indisposição em tratativas com as pessoas, nem com adversários políticos.
Sempre respeitoso e solícito. Lembro de ter ido na prefeitura, algumas vezes, para tratar de assuntos municipais. O prefeito era meu amigo e correligionário político. Nessa época, eu estava prestes a assumir o mandato de deputado estadual, na Assembleia Legislativa. Via o seu zelo e recato, no trato da coisa pública. Sua sala de trabalho e do secretário, decoradas com móveis comuns, davam o tom da lhaneza administrativa. Sem desmandos.
Casado com Damazia Steil Silva, descendente do luxemburguês Peter Steil, residente no Rio da Dona, Tijucas. Em razão da sua nacionalidade, possibilitou seus descendentes à cidadania Luxemburguesa. Era prima de minha mãe.
As homenagens prestadas pelo poder público aos cidadãos, por relevantes serviços prestados ou destaques enaltecedores, é de salutar importância, observadas, a relevância do serviço, dignidade, honra, passado decente, caracteres individuais, fatores históricos e no que contribuiu o homenageado para a sociedade. Não se pode conceder honrarias, a qualquer pessoa, simplesmente para satisfazer casuísmos momentâneos e politiqueiros. Nem em nominação de ruas, locais ou prédios públicos. Título honorífico significa honra, que é digno de respeito. Para uns as significâncias, para outros, nem os significados? E os que fizeram história? Preteridos? Esquecidos na imensidão do tempo?
Caneta com tinta escreve, Gentil Silva, começou a administração municipal, do nada, sem caneta, mas escreveu a história batistense.
Orgulho da nossa gente. Avante batistenses.