Dr. Wiilian Duarte da Silva
Em janeiro de 1956, fiz vestibular de Direito na Faculdade de Direito de Sta. Catarina, em Florianópolis. Em março de 1957, como segundanista de direito, passei a escrever para os jornais da Capital, “A Gazeta” e ”O Estado” postulando a emancipação do município de São João Batista, onde nasci e morava. Conhecia bem a sede do Distrito de São João Batista, os demais Distritos, muito pouco. E isso, pelo fato de passar bom tempo fora da região, estudando em colégio de padres. O município de Tijucas, começava na foz do Rio Tijucas, no mar e ia até o Distrito de Boiteuxburgo, sede do Núcleo Colonial Senador Esteves Junior, reduto de colonização alemã. O município a ser criado, compreendia os Distritos, de São João Batista, Tigipió, Major Gercino e Boiteuxburgo. Sobre essa região passei a escrever, contando da necessidade da sua independência política, econômica e social.
Com a publicação das primeiras matérias jornalísticas, começou o entusiasmo da população pela emancipação. A sensibilidade emancipacionista aflorou e tomou conta da região. Quando então, comecei a conhecer as lideranças dos diversos Distritos que compunham o novo município. O Distrito de Major Gercino, despontava importante, no contexto do município a ser criado, por sua economia, agricultura e extração de madeira, além de forte comércio e outras atividades.
Naquela época, as dissensões políticas já eram acentuadas, mas o desejo da emancipação era maior, se sobrepunha aos interesses partidários. As primeiras lideranças que conheci, foram José Pierri, chefe político do PSD (Partido Social Democrático) e Adelino Albanas, chefe político da UDN (União Democrática Nacional). Este depois dos primeiros contatos, tornou-se meu amigo, indo a Florianópolis frequentemente em companhia de amigos de São João Batista, para tratar da independência municipal.
A medida que o senário emancipacionista evoluía, com publicações sucessivas em jornais, mais e mais, fui conhecendo pessoas, até porque, Tijucas não queria a emancipação do novo município. Foi travada disputa acirrada entre tijuquenses, que não queriam perder parte de seu território e batistenses que queriam a emancipação de São João Batista com demais Distritos. Por essa razão, a aproximação de lideranças e do povo de modo geral, tornou-se necessária.
Lembro também, dos saudosos amigos de luta, João Fernando Looz, proprietário de hotel, Augusto Fermiano, Janga Andriolo, Rubens João Silveira, eleito primeiro prefeito do município, com quem tive o prazer de trabalhar, como advogado da prefeitura, na legalização e transferência do acervo de bens do Núcleo mencionado, para o município Majorense. Além de José Silveira, José Simão, José Manoel David Jr (conhecido por Juca Ferreira), Coletor Estadual, posteriormente prefeito. Todos, participantes ativos, juntamente com José Kammer, nomeado primeiro prefeito da cidade.
Relembro com saudade dos amigos das localidades: de Boião, João Dellagnolo, pai de Gelásio Ângelo Dellagnolo, foi prefeito e avô do atual, Valmor Pedro Kammers, conhecido como Valmor do Pita; de Pinheiral, Nicolau Rubik e Guino Szpoganicz, comerciantes, Voitenas, de Nova Galícia, vinicultores; e Boiteuxburgo, Benedito Jasper, comerciante e chefe político do PSD, Carlos Peixer (Carlito Peixer), vereador, líder da UDN e de Avelino Heidercheid. E outros, não nominados, que participaram dessa saga emancipacionista de 1957/1958.
Neste momento, escrevendo este artigo, contando um pedacinho da história, externo minha eterna gratidão, a esses bravos homens do passado, que ajudaram na luta emancipacionista. Verdadeiros timoneiros, dotados de espírito público.
Ah! Cidade de Major Gercino, de velhos tempos, acostada as margens do rio tijucas, perpassando as correntezas bravias do seu leito, transportava madeira em balsa, gerando a riqueza de seus filhos.
Ah! Major Gercino, gigante turístico que se acha escondido. Ainda, não descoberto totalmente. De incontáveis belezas naturais, por toda extensão territorial. Contando ainda, com lindíssima queda d’água no centro, no seio do coração, além de correntezas por todos os cantos.
Ah. Major Gercino, de montanhas verdejantes, formando a pequena e belíssima cordilheira, que desce do alto da região boiteuxburguesa e remata com a cidade a seus pés.
Ah! Major Gercino, que apresenta no seu extremo, lá no alto da Região Serrana (682 m.) planícies deslumbrantes, compondo o Distrito de Boiteuxburgo, decantado por escritores. E no dizer do ilustre desembargador Protásio Leal Filho, nos primórdios do século passado: “Será um dos mais fortes sustentáculos da riqueza do município de Tijucas”. E eu, afirmo pela experiência na área hoteleira e turística, “será uma região turística importante do Estado de Santa Catarina, se divulgada a beleza natural”, além do poder municipal. E, se asfaltarem até o alto da serra (Boiteuxburgo), o incremento turístico, será enorme. Ninguém segurará o seu desenvolvimento, além do que é próximo das praias, BR 101, Capital do Estado e outras importantes cidades.
Ah! Major Gercino, do pé da serra, tem tudo que o turismo precisa, a natureza, suas montanhas verdejantes, planícies do alto serrano, as vinícolas, as plantações de hortifrútis, cachoeiras, corredeiras, povo acolhedor de origem europeia, que estende as mãos aos seus visitantes, se abraçam e cantam suas tradições, traçando e fazendo história.
Esse é o lindo município de Major Gercino, que quer ser conhecido pelo mundo turístico, por investidores das áreas de hotelaria, gastronomia e lazer. Paraiso natural de grande potencialidade turística.
A preservação dos mananciais é imprescindível, para o turismo, sem poluição.
Arremato esse texto, solicitando aos amáveis leitores atenção especial, para esse maravilhoso município, de beleza natural, próprio para turismo. Lugar aconchegante e bom de se viver.
Registro finalmente, que Major Gercino é parte da minha história legislativa. Como Deputado, fui autor do Projeto de Lei n.420/60, de 29/11/1960, que criou o município. (Vide “A Emancipação de São João Batista,” pgs.103/114, publicado pela editora Ledix, em 2010). Encontra-se na biblioteca municipal. Outra obra, com tema sobre Major, “Histórias da Vida Real”, edição esgotada. Ambas, de minha autoria.
Aos majorenses o meu abraço.