Dr. Wilian Duarte da Silva
Há muitos anos acompanho a evolução literária do Vale Tijuquense. Gosto de ler os livros dos nossos escritores. Observar atentamente o que escrevem e aprender com a sabedoria de todos. Leio também, os jornais da região. É costume. Nessa agenda literária, enriqueço a memória e contemplo o sentimentalismo que brota da alma do escritor. O conteúdo de cada obra, me permite viajar confortavelmente nesse mar de sabedoria. Que graciosidade e beleza. É o que faço nessa idade da vida, nesse tempo de pandemia.
Procuro seguir a senha literária do filósofo Padre Antônio Vieira, “o livro é um cego que guia, um surdo que houve, um mudo que fala e um morto que vive”. No caminho secular do virtuoso portucalense ou portugalense Vieira, tento acompanhar o que se passa na colmeia literária do Vale Tijuquense.
Observo com o coração cheio de alegria, em ver tantas pessoas da nossa Canelinha, escrevendo poesias, sonetos e dedicando-se a música. Parece que se juntaram, sem serem convidadas e, despretensiosamente, formaram um cordão literário de escritores poetas e musicistas. São determinados, a ponto de fundarem um jornal poético para divulgarem seus trabalhos. Notável. Reflexo do conceito e importância literária. Com essa vertente literária, a cidade canelinhense se projeta nos meios culturais.
Na verdade, por pudor crítico, a gente tem obrigação, de exaltar o trabalho literário que enriquece a mente dos que escrevem. Aqui, o que vale não é só a linguagem convencional, do dia a dia, que vezes é incapaz de descrever experiência, mas as formas emocionais de comunicação do escritor. Não importam os significantes, mas os significados, os gestos gratuitos, aparentemente sem utilidade, uma palavra apenas, às vezes nem isso, um toque, um bilhete, um aperto de mão, um abraço úmido, um olhar, nada de novo, de original, mas quanta alegria e conforto.
O escritor é o homem de letras. E o homem de letras é o homem de espírito. Os homens das artes são os criadores, os inventores. O que reproduzem em suas palavras, reflete o precioso dom da natureza, do Divino. Essa liberdade de comunicar e criar, proporciona o ideal de felicidade que todos querem, almejam.
Quando o escritor se expressa com originalidade, sem redundância na mensagem, maior a taxa de informação e leitura. Se você comunica a uma pessoa o que ela já sabe, a quantidade de informação é zero. Ninguém lê jornal de ontem, nem vai atrás do já visto. Agora, quando se muda e entra no campo da originalidade, da criação, da mensagem sentimental, lírica ou emocional, parece ocorrer o contrário: o amor, a amizade e o afeto são recorrentes, insistentes e pedem aplausos, confirmação.
Verdadeiramente a redundância não diminui a beleza e nem o valor de um poema. Seria um desestímulo, se isso acontecesse. Confesso, que houve época, como adolescente, decorava e declamava poemas (amorosos). Que beleza. Hoje, desfrutando da segunda metade do decênio oitenta, me resta apenas contemplar a beleza do poema, viajar em pensamento pelos caminhos líricos do poeta, imaginando a riqueza da sua mente, aplaudindo sua imaginação e rindo do humor, se houver.
A poesia é a mais lírica das expressões.
A poesia serve para disfarçar o pudor e serve também para exprimir aqueles estados de tensão emocional, que exigem pensamentos, formas requintadas e duradoras de expressão. Em certas horas, o melhor remédio são os versos. Eles vêm do acaso, pela memória involuntária.
Escrevendo esta matéria, me fez lembrar o meu tempo de jovem estudante, cheio de energia e estuante de entusiasmo, a perambular pela cidade de Canelinha e participar das quermesses na velha igrejinha Sant’Ana, bailes e domingueiras, no centro e na localidade de Índia, era uma das boas coisas da vida. Estar presente nas tardes dançantes, animadas pela estimada Juscelina Reis ou na Índia, do amigo Livino Clemes, era quase uma obrigação da juventude. Foi na Índia, num salãozinho de madeira, com cadeiras de palha, acanhado, sem requinte, mas muito respeitoso, onde passei bom tempo, enamorado da minha esposa. Tempo em que tudo era belo, gracioso e sem malícia. Saudades das amigas e amigos daquela época, que já se foram.
Nessa confraria literária que dá brilho e destaque a cidade de Canelinha, está o “Grupo de Poetas e Escritores Sol Nascente”, com o jornal poético “Vozes de Canelinha”, sob a direção de ilustres confreiras das Academias de Letras de São João Batista e Nova Trento, Maria do Carmo Tridapalli Fachini, Márcia Reis Bittencourt e Ilse Maria Paulino Gomes. Essas notáveis literatas, publicam mensalmente em seu jornal, poesias de escritores de diversas cidades do Brasil, notadamente da região. Maravilhoso exemplo. Com o periódico, vão formando, instruindo, incentivando e valorizando a arte da escrita poética em Canelinha. A cidade está sendo conhecida mundo a fora, como “Cidade da Poesia”. Merecidamente.
Os tempos são outros e as ideias progridem. A cidade de Canelinha, apesar de pequena, vai transmitindo sua riqueza intelectual para lugares diversos. Vai firmando presença, conquistando e ganhando prestígio na área da intelectualidade. Essa evidência, também vem acontecendo na música. Vê-se, agrupamentos de jovens nessa missão. Sinal de futuro promissor.
Parabéns a cidade de Canelinha, por esse destaque. Parabéns ao “Grupo de Poetas e Escritores Sol Nascente”, pela brilhante iniciativa.
A todos o meu abraço.