Padre Elinton Costa
Caríssimos leitores, na última quarta-feira, nós, Igreja Católica, celebramos a Quarta-Feira de Cinzas. Para nós, um dia Santo de Guarda. Nesta data inaugura-se um tempo denominado Quaresma, que tem por objetivo ajudar os fiéis a buscarem uma experiência de conversão e mudança de vida.
Esse tempo pode ser entendido como um grande retiro espiritual para todos nós. Tempo de reflexão, penitência e muita oração.
Na Quarta-feira de cinzas durante a liturgia da Santa Missa, omite-se o Ato Penitencial e é sugerido a distribuição das cinzas.
O sacerdote faz a oração sobre as cinzas e sobre o povo de forma a convidar os fiéis a penitenciarem-se diante de seus pecados. O gesto de receber as cinzas é o momento da aceitação e livre adesão dos nossos fiéis em reconhecerem-se pecadores e necessitados desse tempo de penitência e conversão.
Este rito reporta ao Antigo Testamento, quando o povo de Deus, inclusive reis da época, se vestiam de sacos e colocavam cinzas sobre a cabeça como sinal e gesto de penitência.
As cinzas utilizadas na celebração são feitas dos ramos que foram abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior.
Na ocasião os ramos glorificavam a Jesus em sua entrada triunfal em Jerusalém, pouco antes de sofrer todo o suplício da cruz.
O mesmo ser humano que em um momento eleva Jesus também é capaz de negá-lo. Triste realidade humana transformada pelo amor redentor do Senhor que hoje nos convida à conversão.
Quanto à Quaresma é o período que se inicia na Quarta-feira de Cinzas e vai até a Páscoa do Senhor. Esse período instituído pela Igreja Católica correspondem a quarenta dias de preparação para a Páscoa.
Esse número remete aos quarenta anos que o povo de Deus levou no deserto até a terra prometida no grande Êxodo e também o período de quarenta dias em que Jesus foi tentado no deserto (Lc 4, 1-13).
A Igreja sugere como práticas nesse tempo penitencial a oração, o jejum e a caridade. A oração para estreitar nosso relacionamento com Deus.
Na maioria das vezes fazemos nossas orações de forma mecânica e cheia de interesses. A verdadeira oração é relacionamento com a pessoa de Jesus, por meio do Espírito Santo que nos eleva ao Pai. É passo na fé. E em se tratando nos dias de hoje é necessidade diante de tanta carência e falta de sentido. Jesus é a resposta ao coração humano.
O Jejum nos disciplina. Não é somente abster-se de carne ou de algo que gostamos. É intenção e significado para disciplinar nossos instintos mais traiçoeiros.
Por exemplo, uma pessoa que gosta muito de chocolate e o consome quase todos os dias, poderá fazer jejum de chocolate como forma de conter esse desejo em si. Pois, percebendo que é capaz de controlar esse impulso, perceberá que será capaz de controlar outros vícios e inclinações más maiores em sua vida.
Até porque quem não consegue se controlar diante da comida, dificilmente vai se controlar diante da droga, da pornografia, da sexualidade, do dinheiro, do consumismo e outras coisas mais. Até a pessoa perceber que é escrava dessas situações na ilusão de ter controle sobre elas.
A caridade é o gesto de ir ao encontro das pessoas de coração aberto. Não é somente dar uma moeda a alguém que pede no semáforo ou levar uma cesta básica a alguém só por dar. Vai muito mais além.
É amar como Jesus amou em gratuidade que se traduz em gesto concreto na partilha dos bens e do que se é. É dar-se aos irmãos.
Perdoar alguém verdadeiramente é caridade como também dar alimento a quem tem fome, vestir quem tem frio e visitar aos doentes se importando com a vida de cada um (Mt 25, 35-45).
Em suma é viver o que nos pede o Senhor por meio do profeta Joel: “Agora, portanto, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes, e voltai para o Senhor, vosso Deus, Ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo” (Jo 2, 12-13).
Em um tempo de aparências e de sede de sucesso o Senhor pede sinceridade de coração. Por isso, fica o convite para viver esse tempo de conversão e não perder a oportunidade de mudar de vida.
O Senhor é o primeiro que nos quer felizes. Ele nos mostra o caminho e a Igreja na função de religar o ser humano com Deus, propõem essas práticas como meio de nos encontrarmos cada dia mais com o Senhor e conosco mesmos.
Se possível, aliada a essas práticas quaresmais, faça uma boa confissão e deixe o Senhor lavar e purificar o seu coração e sua alma para assim mais leve e feliz continuar sua peregrinação nesse mundo rumo a Páscoa definitiva no Senhor.
Uma Santa e abençoada Quaresma,