E agora, Canelinha?
Cantada em versos e prosas como a cidade sossegada. Sossegada de violências e muito inspirada em cantar, sorrir, passear nas avenidas, apesar de poucas, mas iluminada de gente a falar em gestos de nossas realidades, religiosidades, políticas, futebol, esportes, trabalhos. Neste jeitinho peculiar de acabar tudo em uma frase coletiva: “Tudo bem”.
Falar de nossa gente, a gente brilha o olhar e sempre argumenta, ou no bom humor ou em fatos normais, de uma cidade hospedeira, mansa, mas apta a ir à luta. Buscar desenvolvimentos nos ritmos qualificados como um jeito bom de ver a vida. E caminhar com as pessoas conterrâneas ou não. Sempre “pessoas”. Sempre bem-vindas.
E veio aquela pergunta: Encontraram a Flávia? Todos na mesma interrogação. Desde o dia 27 de agosto ela saiu para um chá de bebê e não voltou. Grávida, com dias contados para o parto.
Uma notícia chocante apontava no hospital com a notícia da chegada de uma criança recém-nascida, no colo de uma jovem, também grávida.
A cidade anoitecia, e as dúvidas mais atrozes se multiplicavam até que, na sexta-feira, todos chegavam em um triste e mortal fato: Flávia Godinho Mafra, de 24 anos, foi encontrada morta e ferida, brutalmente ferida, em uma cerâmica abandonada, no bairro de Galera.
O mundo parou em Canelinha. Todos nas redes sociais pedindo justiça e, ao mesmo tempo, reportando os mais lindos momentos de Flávia e seu marido, onde ambos esperavam a filha como a chegada de maior felicidade: abraçar, escutar o chorinho daquela menina tão amada, alimentada de ternura e fé. E eis que, a tempestade da ostentação compulsiva, diabólica, aniquilar, e arrancar a vida, não apenas de Flávia, arrancar a vida de paz e alegria dos pais de Flávia, de amigos e de toda a nossa humilde cidade. E assim, as cidades distantes ou perto, que tomaram ciência deste ato nunca visto em nossa cidade.
Fala-se que a santidade de alguém se alcança com seu martírio e sua postura de vida, valores, até os últimos suspiros de sua existência.
E lá, naquele local escuro, onde os últimos instantes de luta por sua filha, por sua missão de mãe e vidas de ambas, cobriam as mãos atrozes e o chão de sangue inocente. Não irão jamais derrotar Flávia. Não há morte para o espírito. Nosso corpo é efêmero, mas nosso espírito pertence aos céus.
Flávia é amada por todos que a conheciam, e outros milhões de pessoas que vieram conhecê-la depois de seu martírio.
Canelinha, levante seu olhar para os céus, pois a luz jamais será destruída, e na florzinha que acaba de nascer, a vida de Flávia será, a cada dia, ressuscitada e muito amada.
O “agora” pede fé e muito amor aos pais e filhinha Flávia.